Skip to main content

Não sei se a banda inglesa The Wedding Present tem algum valor para essa geração mais nova de ouvintes. Em contrapartida, muito menos saberia relacionar o significado da palavra ‘valor’ nos dias atuais. Aquilo que é valoroso para mim, pode não ser para você. Para alguns, valor pode estar expresso por meio de um hit momentâneo ou de uma banda que figura na mídia, para mim, é o que um grupo já prestou para o cenário musical e o que já ficou gravado e indelével no fundo de minha alma.



A turma do vocalista/compositor David Gedge reflete um pouco do que quero dizer. Apesar de muitos considerarem esse pessoal de Leeds como mais uma banda vinda na cola dos Smiths, eles puderam provar, consistemente, que a história era bem outra. Unindo agressividade sonora (baixo e bateria em constante pulsar) em meio a espasmos de calmaria (belos dedilhados de guitarra que deixariam um Johnny Marr orgulhoso), o Wedding foi deixando a sua marca. Em sua fase mais prolífica, com os lançamentos dos geniais e ainda vitais ‘Bizarro’ (1989) e ‘Seamonsters’ (1991), foram capazes de darem socos em nossos estômagos, ou melhor, em nossos cérebros e canais auditivos. Sempre soando competentes e cada vez mais adorados pelo público. Tornaram-se assim, fonte de expiração para grupos atuais e se solidificaram como um dos expoentes da música anos 80 e 90. Dou valor ao status em que chegaram e que continuam carregando.



Assim com as duas produções citadas acima, ‘El Rey’ também conta com o notório Steve Albini (que já trabalhou com Pixies, Nirvana, Pj Harvey e outros). Quem já passou os ouvidos nas produções de Albini, sabe como o produtor controla em medidas precisas, agressividade e docilidade quando cada uma torna-se necessária. ‘El Rey’ não foge à essa regra e mostra canções que variam em constantes climas rítmicos, que ficam se transitando da lentidão à velocidades absurdas em questão de segundos. O melhor da escola pós-punk digerido e agora regurgitado em pérolas lapidadas da espécie de ‘The Trouble With Men’.



Assim como o trunfo máximo do Wedding Present é não dar primazia a um único instrumento. Todos funcionam em concordância uníssona, direta e intrínseca formando um bloco espesso e complexo para forjar peças harmônicas potentes como ‘I Lost The Monkey’ e ‘Palisades’. Embora cada instrumento não tenha perdido suas características principais. Bateria desnorteante que abre o disco e já te deixa arrepiado em ‘Santa Ana Winds’ ou a parede de guitarra que assola ‘The Thing I Like Best About Him Is His Girlfriend (Santa Monica And La Brea Version)’. O velho Wedding em boa forma.



Na antiga e boa revista Bizz (lá pelo final da década de 80) algum crítico brincou que a voz de David Gedge lembrava a do Pato Donald. Brincadeiras à parte, achei ela aqui muito mais cativante, sem perder a energia e soando como se fosse a de um jovem de uma banda em pleno début. É o próprio cantor que faz referência à cidade onde mora há 1 ano e ao famoso super-herói de cinema, isso em ‘Spider-Man On Hollywood’. Letra humorada acoplada a uma carga instrumental vibrante, e que deixa a música com pose pop-rock. Poderia até ser cantada em coro pela multidão. Um quase hino, por assim dizer.



Em 2008, mais um retorno. É sempre necessária a valorização de músicos que retornam e ainda denotam um talento inegável, mesmo que isso não nos cause tantas surpresas assim. Mais louvável ver que alguns valores ainda são latentes no fundo de nossas almas. Numa época cheia de valores perdidos, vale muito reconsiderar e repensar nos seus ou naqueles que estão ao seu redor.



Resumo

Pontos positivos:

- Bela produção, unindo doçura pop e vigor punk.

- Instrumentos em sintonia marcando o velho e performático jeito Wedding Present de ser.

- O disco pode teimar em voltar ao repeat. E isso é virtude hoje em dia.

 

Pontos negativos:

- Não espere por mudanças e inovações. Ainda com um pé nos 80’s.

- Chacoalhar os pés enquanto se ouve ‘El Rey’ em pleno serviço pode gerar demissões ou discussões com seu chefe.

 

Nota: 7,5

Artista: The Wedding Present

Disco: El Rey

Ano: 2008

Gravadora: Manifesto Records