Os Guillemots sempre se mostraram uma banda pretensiosa, isso já tinha ficado claro em seu álbum de estréia. Para uma banda com apenas um Ep lançado, os ingleses mostravam uma maturidade musical surpreendente exposta nos arranjos suntuosos ou em canções intimistas, quase à capela. Essas qualidades fizeram de “Through the Windowpane” uma estréia bastante agradável e um dos melhores álbuns de 2006, cativando público e crítica.
Em “Red” eles mantém a pretensão em alta, uma pretensão exageradamente pop que fica bem evidente já na abertura do álbum com a apoteose de “Kriss Kross” e sua profusão de violinos, sopros e exagerados falsetes, e atinge seu ápice em “Big Dog”, com batidas eletrônicas e backing vocals ao melhor estilo dessas superpoduzidas cantoras americanas que aparecem em clips sensuais que inundam a MTV. Esse é o momento em que se dá uma pausa no álbum, franze a testa e se pergunta: o que aconteceu com o Guillemots? O que virá daqui pra frente? “Big Dog” para os fãs mais ortodoxos vai ser um soco abaixo das costelas dado por um pugilista peso pesado, com efeito doloroso.
Tendo deixado de lado os elementos de banda indie perceptíveis em seu debut, o Guillemots de 2008 parece disposto a alcançar um outro público, levar sua música para outros horizontes, para isso resolvem se ancorar em elementos eletrônicos, deixar as guitarras, pianos e arranjos com cordas num canto e cair na dança, numa espécie de celebração quase adolescente como em “Get It Over”, o primeiro single do álbum ou “Last Kiss”.
Como toda mudança gera controvérsia, principalmente num segundo álbum, “Red” tem conseguido ocupar os dois extremos da escala, mas nas paradas inglesas já ocupa uma posição bem melhor que seu antecessor. As influências de R&B continuam presentes nos vocais de Fyfe Dangerfield e podem ser sentidas bem presentes na balada “Falling Out of Reach”, desnecessariamente adornada com backing vocals gospel, numa vontade exagerada de fazê-la soar mais pop, ou na sincopada “Clarion”, que tem um pouco de “Trains to Brazil”, e na chatinha "Cockateels", que mais lembra George Michael.
Como o Guillemots chegaram até Red? Talvez a declaração de Dangerfield em uma entrevista sirva como uma pista. Comparando o processo de gravação com o de “Through the Windowpane”, eles afirmam que ali havia toda uma excitação infantil pela gravação do primeiro álbum, enquanto que em “Red” já haviam excursionado, tocado em festivais, e para a gravação, que foi bastante tensa, pararam apenas algumas semanas e se trancaram em estúdio para criá-lo. Adiante ele admite que se tivessem se isolado numa ilha por alguns meses para se concentrar no disco, o resultado seria diferente. Sediados numa grande gravadora, a pressão sobre “Red” por certo influenciou na direção que este tomou, resultando num álbum até difícil de reproduzir ao vivo, segundo a própria banda, vide a gama de elementos musicais espalhados nas canções.
“Acho que a vida seria mais fácil se não houvessem palavras”, canta Dangerfield em “Words”. Com uma letra em que analisa a dificuldade do uso das palavras, o “Guillemots” comete uma das mais interessantes canções do álbum, num arranjo cheio de pompa que vai agregando sopros, teclados, xilofone, e caso estivesse colocada no álbum anterior, muito provavelmente, seria bem intimista, quase à capela. Essa é uma das principais diferenças entre um e outro álbum, a produção, a tentativa de preencher os arranjos o máximo possível. Em “Through the Windowpane” os elementos entram para complementar os arranjos, aqui eles parecem ser o foco das composições. Nos momentos em que mais se aproxima das idéias propostas em seu début, encontram com o U2 pelo caminho, seja em “Standing on the Last Star” ou “Take me Home”.
Antes da versão verdadeira de “Red” vazar na rede havia rolado uma versão fake de um cantor francês. Os mais irados com esse novo álbum do Guillemots chegam a afirmar que aquele álbum consegue ser superior ao verdadeiro. São comparações interessantes, mas equivocadas. Se tem um álbum que se pode tecer comparações com “Red” é o debut da banda. Essa comparação deixará clara a mudança pela qual passou a sonoridade dos ingleses. “Red” quer soar grandioso, eloqüente e escancaradamente pop, resultado direto de uma produção que limou os elementos mais interessantes da banda, para transformar a banda num objeto de consumo das massas.
Se vermelho em sinais de trânsito significa pare, “Red” acaba obrigando a praticar uma infração de trânsito.
Melhores momentos: "Falling out of Reach" e “Words”.
[Polydor, 2008]
NOTA: 6,0