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Se colocássemos um grupo de doidos de qualquer hospício numa banda, com certeza esse resultado viria com o nome de Clinic. Pois o quarteto de Liverpool soa como uma experiência para lá de inusitada e parece comandada por um bando de malucos. Pra começar, o timbre de voz do vocalista Ade Blackburn fica num misto indeciso de Brian Molko (Placebo), Black Francis (ex-Pixies) e de um Thom Yorke (Radiohead) em estado etílico. Sob tal aspecto, já inicia-se a estranheza, e só por tal particularidade, muitos abandonam a banda nos minutos iniciais. Além da voz, o grupo preza em fazer uma sonoridade nada fácil, unindo os experimentalismos percussivos de um Liars, as bizarrices sônicas de um The Fall, o jeito primitivo de um garage-rock final dos 70, sem se esquecer do que convencionou chamar, atualmente, de art punk. Isso sempre em performances esquisitas em palcos e os integrantes vestindo máscaras de médicos.



‘Memories’, a música de abertura, é o delirante cartão de visitas do grupo. Tendo em vista de quem tem algum conhecimento da sonoridade do Clinic, em ‘Do It!’ não são percebidas mudanças bruscas em relação às obras antecessoras. ‘Tomorrow’ é tecida com cordas beirando o desafinado e poderia ser comparada a um folk esquizofrênico e psicodélico. Para quem está adentrando pela primeira vez no mundo desse quarteto, não é nada fácil ficar incólume a tantos detalhes. Zumbidos, vozes com efeitos, camadas de riffs inacabáveis de guitarras, sussurros, ainda constituem a parafernália sonora dos ingleses. ‘Witch’ é o jeito Clinic de compor como os mesmos vêm fazendo desde 2000.



‘Shopping Bag’ é punk até o tutano do osso. Lembra maluquices de um Wire ou de um Suicide. Tudo com mais insanidade. Desvairada, a música tem guitarras distorcidas se duelando. Assim como há momentos comportados com guitarras dedilhadas e uma bateria mais uniformizada em ‘Free Not Free’, ‘Emotions’ e ‘Mary And Eddie’. Porém, a passividade do Clinic pode fazer um maestro de orquestra ficar abismado.



‘Corpus Christi’ é a que mais se aproxima de um hit (mesmo que seja uma missão quase impossível para esse pessoal agradar a todos). Com uma boa e grudenta base rítmica, guitarras mais límpidas e um vocal menos gritante. Sintetizadores espaciais junto a uma bateria virtuosa compõe a massa sonora de ‘High Coin’. ‘Coda’ assume um tom circense/vaudeville e ganha aspecto de um recital poético em seus instantes finais.



Por quê a nota um tanto quanto baixa do disco? Não é por causa da estranha sonoridade do grupo. Ela já me cativava desde os primeiros álbuns: ‘Internal Wrangler’ (2000) e ‘Walking With Thee’ (2002). Até penso que, assim como o Liars, o grupo apresenta um som que foge do lugar comum que anda aos montes por aí. O problema é que, seis anos depois, o grupo não soa perfeito em 11 faixas, como foi outrora. E ainda faltou um trabalho aprimorado para se chegar a um nível de qualidade para obtenção de um reconhecimento.



Algumas canções ficaram perdidas no disco, acabaram soando como sobras de estúdio. Certos ouvintes podem dizer que aqui eles ficaram mais acústicos e puros na sonoridade, ao invés do experimentalismo e da sujeira que figuraram anteriormente. Eu prefiro ficar com a esperança de um próximo disco mais arrebatador e convincente. Também esqueçamos a capa do álbum que é algo de muito mau gosto, por sinal.



Destaques: ‘Memories’, ‘Witch’, ‘Corpus Christi’ e ‘Shopping Bag’



Nota: 6,0

Artista: Clinic

Disco: Do It!

Ano: 2008

Gravadora: Domino