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Poderia começar essa resenha esbravejando assim: ‘Fãs incondicionais da boa música e das infinitas sensações que ela traz consigo, alegrai-vos. E conheçam Cut Copy.’ Ou, sem tanto alarde, de uma forma mais confidencial, apenas dizer: ‘Ei, você, que em 2007 gostou de Studio e do Tough Alliance, neste ano o Cut Copy assume o lugar deles nos deixando uma pérola do mesmo nível’.



Poderia ainda pedir para você deitar num quarto escuro, com um nítido fone de ouvido, no maior silêncio possível. Contudo, você pode ouvir numa pista de dança, embora seu corpo em movimento possa deixar algo passar despercebido. E depois de ouvir, pode se emocionar em todas as formas possíveis e próprias do caráter humano: chorar, rir, lembrar de épocas passadas, dançar, refletir, dormir em paz. Permita-se a ter sentimentos com uma bela e cativante produção musical como essa.



E quem causa isso? Um trio de Melbourne (Austrália). O líder e compositor Dan Whitford, o baixista e o guitarrista Tim Hoey e mais Mitchell Scott na bateria. Assim é a formação mais conhecida dos internautas. Lógico que o trio usa (e corretamente) os recursos tecnológicos/de estúdio que nem precisamos citar mais. Três mentes antenadas com o que aconteceu até hoje na eletrônica. É fácil você lembrar de expoentes mais atuais do estilo: Daft Punk, LCD Soundsystem e Caribou. Dos mais antigos, associações com Human League, Depeche Mode, New Order, Pet Shop Boys e Les Rhytmes Digitales. Influências e similaridades à parte, o disco soa íntegro, com identidade, unicamente e totalmente interessante e se você gosta da música eletrônica, nem hesite em escutá-lo.



‘Feel The Love’ é a música ideal para se começar um disco. Para mostrar realmente e significativamente a proposta de um grupo. Refrão e melodia mnemônicos, instrumentos bem utilizados e uma síntese de como a eletrônica pode ser igualada ao pop-rock. Pode ser feita usando o cérebro. Base rítmica contagiante e vozes semi-robóticas de ‘Out There On The Ice’ dão a segurança para seguirmos adiante na audição. Numa integração hipersônica que une boa base de baixo, riffs de guitarras e sintetizadores caóticos, ‘Unforgettable Season’ se solidifica como mais uma sensação do disco. Com clima mais rock, guitarras e batidas densas somadas a sintetizadores tornam ‘So Haunted’ um possível hit da banda.



Vinhetas climáticas e oníricas como ‘Voices In Quartz’ apenas dão um descanso até começarem canções como a hiper-dançante ‘Hearts On Fire’, que é envolvida num clima meio retrô, meio modernidade. E se o Erasure ousasse um pouco mais, poderia ter feito uma composição inesquecível e do calibre de ‘Far Away’. Assim como se o New Order estivesse em seus ótimos dias da fase ‘Technique’, com certeza eles teriam feito algo do naipe de ‘Nobody Lost Nobody Found’. O fechamento se dá com a pacífica, experimental e estranha ‘Eternity One Night Only’. Repleta de efeitos, já nos deixa com um gostinho para um próximo trabalho do trio.



Sem desmerecer o passado do Cut Copy, ‘In Ghost Colours’ nos faz até esquecer do regular ‘Fabriclive.29’ (2006). Claro que podem falar que o disco é (mais) um pastiche entre tantos que tem por aí, mais imitação, mais um grupo a buscar no passado fonte para a sua sonoridade atual. Lembramos da máxima de que é mais fácil criticar erroneamente do que usando o bom e próprio senso. Eu usei do meu. E olhem que quase me desliguei do disco na primeira audição. Como é bom estar errado de vez em quando.



Nota: 9,0



Artista: Cut Copy

Disco: In Ghost Colours

Ano: 2008

Gravadora: Modular/Interscope