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A maior diferença entre esse novo álbum do Mercury Rev e seus antecessores é o uso recorrente de elementos eletrônicos nos arranjos: batidas e synths, e as doses maciças de camadas de teclados. Tirando isso, encontraremos em “Snowflake Midnight” aquele mesmo Mercury Rev de “Deserter's Songs” (1998) até “The Secret Migration” (2005): a produção sempre bem cuidada, a diversidade de timbres e elementos em segundo plano (melhor perceptíveis em fones de ouvido) e, claro, os inconfundíveis vocais de Jonathan Donahue, cantando mais uma vez sobre corações partidos e elementos da natureza.



Vez que “Deserter's Songs” se situa como um marco na carreira da banda, todos os seus sucessores acabam soando como idéias já ali exploradas vistas sob óticas diferenciadas: mais sinfônico e apoteótico em “All is Dream”, e aqui mais progressivo e eletrônico, com momentos de trance music e referências a Pink Floyd. Seria o caso de os americanos estarem mudando para continuarem os mesmos, ou seja, reciclando o que já fizeram antes. Mas não se reinventando.



O resultado não chega a ser tão atordoante quanto outrora, mas rende um álbum coeso e de assimilação fácil, ao contrário de “The Secret Migration”, tão solenemente ignorado, dada a sua necessidade de uma audição mais atenta. Em oposição, “Snowflake Midnight” bem pode ser ouvido enquanto se lê um livro por exemplo, ou durante uma passeio de carro, como sugere a descontraída “Butterfly's Wings” ou a deliciosamente alucinada “Senses of Fire”, embora carregue momentos onde a idéia é de pausa para reflexão, vide o instrumental gélido de “October Sunshine” ou de um transe psicodélico de batidas sincopadas: “Runaway Raindrop” e “Dream of a Young Girl as a Flower”.



É aquele conhecido Mercury Rev, sem grandes rupturas, mas sempre tentando levar seu som um passo adiante, buscando não cair na autorepetição, e isso eles conseguem de forma sempre interessante.



[V2 Records, 2008]