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O Second Come nasceu em 1989, “das cinzas do Eterno Grito”, como se escrevia na época. Eterno Grito foi um quarteto que tinha Fernando Newlands (voz), Tuta (bateria), Fábio Leopoldino (guitarras) e Francisco Kraus (baixo) na sua formação. Lançaram um único vinil pela extinta Toc Discos, que era uma rede de lojas de discos e inaugurara com a banda sua nova função como gravadora. O EP do Eterno Grito tinha 6 músicas, fora produzido por Maurício Barros (tecladista do Barão Vermelho) e uma única música em inglês, “The Sin”, uma composição do Fábio. Lançado em 1989, o EP (somente em vinil) teve boa repercussão com as músicas “Fumaças” e “Archote” sendo executadas na Transamérica FM e também na Fluminense FM. Depois de algumas mudanças na formação, o Eterno Grito acabou.

 
Em novembro de 1989, Fábio e Francisco chamaram os amigos Dalton Vianna (bateria) e Fernando Kamache (guitarra) e montaram o Second Come, com músicas apenas em inglês e letras do amigo norte-americano Paul Conrad. Já começaram gravando uma demo com 4 músicas, “Violent Kiss” (disponível ao lado dentro da coletânea “Old shoes”). Esta primeiro demo foi lançada apenas em cassete e na época ainda não era comercializada em shows; servia apenas para divulgação da banda na imprensa. “Violent Kiss” trazia “The Shower” (que acabou entrando como faixa bônus ao vivo no CD “You”), “Wicked Sky”, “My world” e “Deafening sounds on my mind”.
 
 
O primeiro show oficial aconteceu no DCE da UFF, em Niterói, junto com outras duas bandas locais: Squonks e Saara Saara. Por ensaiar na cidade, o Second Come sempre foi creditado como uma banda de Niterói, o que não era verdade já que dos 4 integrantes, apenas Fábio morava em Nikiti. Ainda em 1990, a banda fez seus primeiros shows em São Paulo (no Espaço Retrô e Chopperia do SESC Pompéia) e no Rio de Janeiro (Buganville). Ao vivo, as diferenças entre Second Come, Eterno Grito e o estilo das bandas brasileiras “anos 80″ estava claro. Letras apenas em inglês, vocal menos impostado e baixo, escondido entre as distorções das guitarras, levadas psicodélicas na cozinha baixo/bateria e dedilhados repletos de fuzz e wah wah mostravam que o Second Come não tinha nenhum parentesco com a música feita no Brasil antes do começo dos anos 90.
 
 
Com a primeira demo, foram escolhidos uma das bandas revelação de 1990 pelos críticos da revista Bizz. Mesmo assim, não foi nada fácil para eles, do começo até o fim da banda, em 1994. O Second Come teve que passar sua carreira explicando o porquê de preferir cantar em inglês, tocou pouquíssimo em rádio e, apesar de ser considerada unanimidade pela crítica especializada, sempre teve que se desdobrar para fazer as oportunidades acontecerem.
 
 
Um dos maiores esforços do Second Come era gravar demos, isso em tempos pré-internet, pré-Pro Tools, pré-estúdios caseiros, pré-tudo! Em abril de 1991, menos de 1 ano depois do sucesso da primeira demo, eles entraram em estúdio e gravaram 7 músicas para “Wade’s Bed”. Marcel Plasse, na época jornalista d’ O Estado de São Paulo, escreveu que “Wade’s Bed” seria o melhor disco do ano caso tivesse sido prensado em vinil ou CD (um luxo na época). A demo, também lançada apenas em fita cassete, já trazia algumas músicas que entrariam no primeiro CD da banda e eram obrigatórias nos eletrizantes shows do Second Come: “Ten Fingers”, “Run Run” (o primeiro hit), “Violent Kiss”, “I’ll be happy”, Wade’s Bed”, “Bullet in my Heart” e “Amen”. Foi nessa época que abriu no Rio de Janeiro o Garage, na Praça da Bandeira, onde o Second Come fez vários shows.
 
 
mistura de punk rock e new wave, que tornaria muito famosa uma banda norte americana de Seattle. Curioso é que no começo de 1991 ninguém no Brasil conhecia o Nirvana, muito menos o Second Come. Uma matéria de capa na edição nº 4 do fanzine midsummer madness falava justamente disso, usando o conceito de sincronicidade. Outro fator que contribuia bastante para o “peso” no som do Second Come era a entrada o baterista Kadu (de óculos na foto ao lado) no lugar de Dalton.
 
 
Ainda em 1991, no final do ano, após a entrada do Kadu, o Second Come decide gravar sua 3ª demo, “I Ain’t” com as músicas “Perfidiousness”, “Mouse” e “I Ain’t”. Na época, o guitarrista Fernando Kamache dizia: “Infelizmente é normal que a comparação seja no sentido ‘nós copiamos eles (Nirvana, Mudhoney, etc)’ e não ao contrário. O problema é que lá fora eles gravam (discos) e nós não. As pessoas não sabem que nós exisitimos pois nós não temos um LP.”
 
 
Este problema começaria a acabar em 1992, quando Dado Villa-Lobos (guitarrista da Legião Urbana) e André X. (baixista da Plebe Rude) decidem montar um selo chamado Rock It! A Rock It! também era uma loja de CDs importados e os dois resolveram entrar no negócio fechando um acordo de produção e distribuição com a EMI Brasil. O Second Come era um dos best-sellers da loja, mesmo tendo disponível apenas uma fita cassete que compilava as 2 demos de 1991. Vendia mais que vários CDs importados.
 
 
A Rock It! ajudou a bancar a gravação do primeiro disco do Second Come, “You”, o que foi feito em tempo recorde (72h) num recém nascido Estúdio Mega no Rio de Janeiro. A produção foi dos 2 donos da Rock It! em conjunto com a banda mas a grana era pouquíssima, em tempos que gravar disco era super produção. Usando horários alternativos, surrupiando fitas rolo e ADAT da EMI e dormindo no chão do estúdio em Botafogo, “You” ficou pronto. Quer dizer, quase…
Na hora de produzir a capa, a Rock It! ficou sem dinheiro e todas as idéias que a banda tinha eram vetadas. Em cima da hora, com o disco pronto na fábrica, acabou ficando a capa preta e branca que muitos não gostaram. Alguns rabiscos do que seria a “real” capa do Second Come a gente mostra aqui ao lado.
 
 
O vinil vendeu bem, entrou na “Parada Dura” que era um top 20 quinzenal publicado pelo jornal Estado de São Paulo à frente do Sepultura. Com o relativo sucesso, a Rock It! decidiu fazer uma versão CD que trazia 2 músicas a mais (”You” e “Shoes”) além de “Hurricane Age” tocada ao contrário. Com o disco lançado, a banda enfrentaria os piores problemas: em 1993, quando disco saiu, não havia circuito de shows para bandas alternativas no Brasil. Tocava-se no Rio, em São Paulo, talvez em Curitiba e Belo Horizonte e ponto final. Os espaços na mídia eram ainda mais escassos: a banda dependia do lobby da Rock It! (leia-se Dado/Legião Urbana e André/Plebe Rude) para conseguir espaços nos jornais e nas rádios. Não custa lembrar aos mais novos que em 1993 a internet ainda era ficção científica.
 
 
Na Folha de São Paulo de fevereiro daquele ano, Celso Fioravante escreveu: “As faixas ‘Run Run’ e ‘Hurricane Age’ poderiam dar a impressão de que o Brasil já tem sua própria banda ‘grunge’ mas seria um engano. O Second Come vai além disso (…) flertando com Sonic Youth, Husker Du, Cure, Ride e outros. (…) Uma prova disso é a excelente versão de ‘Justify my love’ (Madonna). Dá pra virar hit de FM sem esforço.” Não virou… mas conta a lenda que uma banda norte americana produzida por Jack Endino plagiou a versão (!!!).
Outra estória da época, conta de um provável depoimento do jornalista Everett True (à epoca, incensado como ‘descobridor do grunge’) dado a Marcel Plasse que dizia o seguinte: “Eles me lembram o Jesus & Mary Chain… mas o Mary Chain nunca foi tão bom assim… é difícil imaginar que uma banda dessa venha do Brasil.”
O Second Come também não tinha muito espaço na MTV. O começo dos anos 90 foram a infância do canal de música que praticamente só abria espaço para bandas alternativas nos programas segmentados da madrugada: o SC frequentou programas como Lado B e Demo MTV. Em 1993, a banda participou do Juntatribo, um dos primeiros festivais independentes do Brasil. A trinca famosa na época era Second Come, Pin Ups (de Sp) e Killing Chainsaw (interior SP).
 
 
O disco, também lançado pela Rock It! e com produção um pouco mais esmerada de Dado Villa-Lobos.“Superkids, superdrugs, supergod and strangers” saiu em 1994, somente em CD, quando o cast da gravadora já comportava Gangrena Gasosa, Dungeon, Pelvs e Low Dream, nenhuma delas com a mesma repercussão do SC.
Mimados mas nem tanto, Fábio disse ao Globo em dezembro de 93, a respeito do novo disco:“Não existe responsabilidade em escrever uma letra, seja ela em português ou em inglês. Para a banda, o que mais importa é a melodia. Sequer estamos preocupados com a nossa postura no palco. Quando tivermos dinheiro, colocaremos um enorme telão no fundo do palco para que as imagens projetadas sejam mais importantes que nós.”. Para o 2º disco, o baterista havia mudado novamente, com a entrada de Reyson no lugar de Kadu (que havia montado o Dash com Simone, ex Squonks e futura baixista do Autoramas, ainda nem nascido). Simone por sinal participa do CD cantando na música “Little Friend” e Daniela Matera (da banda Number 4) canta na faixa onde o título é o desenho de um astronauta.
 
A impressão é que o Second Come estava ao mesmo tempo inspirado e desgastado. Inspirado pois podia usufruir de alguma liberdade e estrutura pada produzir músicas novas, mas desgastado com a pouca viabilidade da banda no cenário musical da época. No final de 1994, depois de um show de lançamento fenomenal no Circo Voador (RJ), o Second Come acabou.
Em 1996, Fábio L., que também desenhava e pintava, fez a logomarca do midsummer madness, o satélite (speck) que usamos até hoje e foi redesenhado em 2005 pela Bloco Multimídia.
Em 1997, o midsummer madness relançou as demos do Second Come na coletânea mm27 - Old Shoes, em cassete e CDR. Old Shoes traz 2 músicas da primeira demo, as 7 músicas da 2ª demo e as 3 faixas da terceira, além de 2 faixas extras: “Violent Kiss” regravada em 1992 para a coletânea No Major Babes, organizada por Marcel Plasse; “Speck” gravada ao vivo num estúdio do Rio como faixa exclusiva para a coletânea mm02 “Slowly Making You Want It”, do fanzine midsummer madness.
 
Em 1999, o Second Come se reuniu, sem o vocalista Fábio, para um show no festival Algumas Pessoas tentam te Fuder, do midsummer madness, e comemorou 10 anos do início da banda. Neste mesmo ano, Fábio, Sol (Stellar), Régis (4-Track Valsa/ Casino, Cigarettes e depois Supercordas) e Johann Heyss gravaram sob o nome de Polystyrene um EP de 7 músicas, chamado “Underwater”.


Em 1995, Fábio se juntou ao Stellar, mas isso é outra história. Francisco passou a tocar baixo no Terrible Head Cream e depois no Jess Saes. (Midsummer Madness)
 
Fábio Leopoldino Maia

1963-2009

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