Começo pulando a competência instrumental e técnica que se percebe à primeira passada de ouvidos neste cuidadíssimo álbum dos Numismatas (os chamo assim por ser uma prática lusitana pra se referir a bandas e integrantes da mesma, a qual acho boa). Aquelas – competência e técnica – não são as mais importantes neste momento, apesar de fundamentais e bem-vindas. Quero me ater a uma linguagem da qual acho que eles fazem parte, que vem se definindo através de criadores que firmam o ponto neste início de século XXI.
Esses criadores representam um suspiro de possibilidade num rock que dizem que morreu já quase desde seu nascimento, há décadas atrás. Mas seu rock é mestiço, com sinais de nascença evidentes de quem ouviu muitas e várias pérolas de nosso cancioneiro nacional. Rock abrasileirado ou MPB com um belo sotaque rock, não importa a ordem. Importa mesmo é que trazem embutidos em suas criação evidentes genomas da mistura urbana dos dias em que vivemos.
No título a palavra Chorume, que apesar de soar melancólica, até em sua própria aparição musical-poética, tem em suas definições no vernáculo tanto o sentido de abundância quanto o de definir o caldo despejado pelos caminhões de coleta dos grandes centros urbanos. Aí está a chave: eles extraem poesia musicada de qualquer dessas possibilidades que o vocábulo oferece. Mexem com o bom e o ruim de nossas grandes cidades com categoria e sobrevoam filosoficamente ou levemente por temas, musicais ou poéticos. A isso some-se a competência instrumental e técnica, as quais pulei lá atrás, e temos chegando por aí um belo CD de uma boa e autoral banda.
Numismata, enfim, coleciona boas moedas e medalhas da cultura pop contemporânea. Por Pedro Luís (PLAP)
http://www.myspace.com/numismata
- Origem:
- Log in or register to post comments