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Com mais de uma década de estrada, o Walverdes vem "destruindo" os tímpanos de muita gente com seu rock visceral. No coquetel "garageiro", com uma certa dose alcoólica, a banda gaúcha formada por Gustavo (Mini) Bittencourt (guitarra), Patrick (baixo) e Marcos (bateria), já lançou diversos CDs e K7s, entre eles os já clássicos "Anticontrole" e "Playback", participaram de coletâneas, documentários, e assim foram escrevendo a biografia da banda, se consolidando como uma das mais importantes da cena independente nacional, atraindo a atenção do público, e principalmente dos jornalistas, que não poupam elogios ao trio.



Na sonoridade da banda, uma mistura de Stooges, Queens Of The Stone Age, Mudhoney, The Sonics, Rocket From The Crypt, entre outros nomes, surgem como referência do trio gaúcho, que atualmente excursiona promovendo seu último trabalho, chamado "Playback" (Mondo77-2005).



Nesta entrevista feita por e-mail, Gustavo e Patrick falam sobre a mudança de gravadora, bandas gaúchas, internet, entre outras coisas. O próximo show da banda será ao lado do Supergrass e Mission Of Burma, colocando mais um importante capítulo na barulhenta biografia do Walverdes.



MuzPlay: O Walverdes já tem mais de 10 anos de estrada, uma série de shows na bagagem, participações em coletâneas, excelentes álbuns. Como foi o começo de carreira de vocês e o que mudou em relação aos dias atuais?



Gustavo Mini: Começamos como um bando de amigos que alugava um estúdio pra beber e fazer um som. A grande mudança que a gente viu acontecer no cenário independente foi a internet e a gravação digital. Ter banda no mundo analógico era mais complicado, você tinha que fazer toda a função em fita cassete, várias visitas aos correios... agora é tudo mais fácil.







MuzPlay: Vocês participaram da coletânea "Loco Gringos Have A Party", uma coletânea com diversas bandas da América do Sul, tocando "stoner rock". Como surgiu esse projeto e como está a atual cena "stoner"?



Gustavo Mini: O projeto é do pessoal do Planeta Stoner, com quem temos um bom contato e amizade, mas nenhuma ligação formal. Não nos consideramos parte da cena stoner apesar de ter muitas referências em comum, adoramos bandas como Queens, Nebula, Fu Manchu, etc. Mas não gostaríamos de ser rotulados de stoner porque o nosso som vai além dessas referências.



MuzPlay: Na biografia do Walverdes vocês citam uma série de bandas como referência, principalmente bandas dos anos 90. Hoje em dia quem tem chamado a atenção de vocês no cenário musical?



Gustavo Mini: De bandas mais novas, o que me chamou a atenção foram coisas como o The GoTeam!, o último disco do Black Rebel Motorcycle Club e o Devendra Banhart.







Patrick: No Brasil, Ludovic, Sonic Volt, Superguidis, Planondas, Pata De Elefante, Caxabaxa e Alcalóides, entre outras. Tenho escutado ultimamente Animal Collective, Twilight Singers, Of Montreal, Slackers, Madness, TV On The Radio.



MuzPlay: Vocês estão escalados para a segunda edição do Campari Rock, ao lado de bandas como Supergrass e Mission Of Burma. O que o público pode esperar do show do Walverdes e qual a expectativa em dividir o palco com essas bandas?



Gustavo Mini: O show de sempre dos Walverdes: muito peso e intensidade misturados com o bônus da alegria e da emoção de dividir o palco com essas bandas que a gente adora.



MuzPlay: Vocês já tocaram em diversos festivais independentes pelo país e recentemente alcançaram a marca de 1000 cópias vendidas com o álbum "Playback" (Mondo77). Quais as maiores dificuldades para uma banda independente no Brasil?







Gustavo Mini: A internet e a crescente profissionalização dos selos está dando um jeito em um antigo problema: a distribuição. Mas um lance ainda é difícil de resolver: o alto custo de viajar pelo Brasil para fazer turnê. Morando no extremo sul, por exemplo, é bem complicado pra gente fazer shows no Nordeste.



MuzPlay: Hoje com a internet fica mais fácil divulgar um trabalho, ao mesmo tempo, isso dá um poder maior para a banda, que passe a ficar "independente" do esquema das majors. Na opinião de vocês qual o futuro da relação entre as grandes gravadoras, as novas tecnologias e as bandas?



Gustavo Mini: Acho que o futuro nada mais é do que um aperfeiçoamento do que está acontecendo no presente: poderes menos concentrados e mais alternativas. Você vai ter cada vez mais jeitos diferentes de trabalhar e não apenas um modelo vigente. Grandes artistas com relevância comercial já estão se estabelecendo em cima de novos modelos. Você pega um fenômeno pop como o Calypso: eles não são cria de nenhuma grande gravadora, mas construíram sua carreira de um modo completamente alternativo e novo, através de distrubuição de camelôs e tudo mais. O Calypso é um exemplo para todos os independentes.







MuzPlay: Vocês saíram da Monstro Discos e entraram na Mondo77. Por que essa mudança? E qual a diferença entre as gravações de Anticontrole e Playback?



Gustavo Mini: Nosso contrato com a Monstro era disco a disco e durante o processo de criação e gravação do Playback, recebemos uma boa proposta da Mondo 77. Conversamos com a Monstro e resolvemos trocar numa boa, por motivos particulares. A diferença nas gravações é que houve um investimento financeiro maior no Playback, então pudemos pegar um ótimo estúdio de gravação e um ótimo masterizador. Outra diferença é que o Playback teve suas bases gravadas todas ao vivo, com a banda tocando junto. Isso trouxe uma energia diferente ao disco.



MuzPlay: Mesmo com mais de 10 anos de carreira, o Walverdes tem pouco material lançado, como é o processo de criação da banda?



Gustavo Mini: Na verdade não acho pouco material... acontece que durante metade desse tempo ainda não existia a possibilidade de gravar CDs. Mas nos primeiros 3 anos nós lançamos 5 fitas cassetes cheias de música! Depois lançamos 4 discos! Acho que é bastante. Houve um tempo que nós fazíamos muita música, toda semana. Agora a gente concentra mais. Geralmente seis meses depois que terminamos um disco já começamos a fazer música nova em estúdio. A gente apronta a música rapidinho e começa a tocar repetidamente em ensaios e até em algum show até ela tomar a forma final.



Patrick: Quando eu ou o Mini não levamos algum esqueleto de música pronta, levamos alguns riffs aleatórios pro ensaio. Então os três vão colocando idéias até esses riffs virarem uma música. Às vezes isso acontece com as letras, mas a maioria o Mini faz em casa. Mas isso não é regra; no último ensaio fizemos uma música nova a partir de um "riff" de bateria.







MuzPlay: O Gustavo é publicitário, escrevia um fanzine literário, hoje em dia o que cada um anda fazendo além de tocar no Walverdes ?



Gustavo Mini: Desisti da literatura, mas continuo trabalhando em publicidade. O Patrick tem sua marca de camisetas, a Mono.



Patrick: Eu toco guitarra em uma banda chamada ON e tenho uma griffe chamada Mono (www.mono.8x.com.br).



MuzPlay: Vocês já passaram por várias fases do rock gaúcho, na opinião de vocês quem são as grandes bandas gaúchas dessas últimas décadas? E como está o atual rock gaúcho?



Gustavo Mini: Acho que o Wander Wildner, Júpiter Maçã e o Frank Jorge meio que deram o tom da última década no rock gaúcho. Outra banda muito importante é a Ultramen. O rock gaúcho vive uma fase frutífera... é banda que não acaba mais, toda semana tem vários showzinhos. Dos últimos anos, eu destacaria o Superguidis, Pública, Viana Moog e a Pata de Elefante, uma banda excepcional, que nasceu como se já tivesse anos de estrada.



Patrick: Replicantes, DeFalla, Cascavelletes, Graforréia...atualmente os melhores shows na cidade pra mim são Frank e Plato, Superguidis, Pata de Elefante, Planondas, ON, Sonic Volt e Irmãos Rocha.







MuzPlay: Se vocês pudessem inverter os papéis e virassem produtores, quais discos vocês gostariam de ter produzido ou que bandas gostariam de produzir?



Gustavo Mini: Nirvana, Wilco, Ian Brown, Chico Science e quem sabe o "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas" dos Titãs.



Patrick: Gostaria de ter participado das gravações do primeiro Eagles of Death Metal e do "40º oz to Freedom" do Sublime.







MuzPlay: Agora que vocês lançaram "Playback", quais são os planos do Walverdes?



Gustavo Mini: Tocar muito ao vivo pra mostrar o nosso som. E tentar fazer uma tour pelo Norte e Nordeste do país.



Patrick: Shows e fazer novas músicas.



Site oficial: www.walverdes.com



Por Adriano Moralis

Fotos: André Takeda - Spectorama (www.spectorama.com)