Durante sua passagem pela Espanha no ano passado, o líder do grupo argentino El Mató A Un Policia Motorizado falou sobre seu último trabalho, "La Dinastia Scorpio" - cuja turnê também passou por São Paulo em 2013 - e de outros assuntos referentes ao seu trabalho musical. Confira abaixo!
Pessoalmente me parece que "La Dinastía Scorpio" tem um encantador aspecto decadente que o converte em um disco certamente irresistível...Pretendia ter esse resultado quando gravou o disco?
Santiago: Não é algo planejado assim de forma tão pontual, mas as músicas tem uma certa melancolia que as une, um lado mais pessoal e introspectivo. Desde a profundidade e a atmosfera da sonoridade pode se perceber isso.
As letras de suas músicas são protagonizadas por um romantismo urbano que apresenta histórias tradicionais com crueza e realismo... Como enfoca e decide os motivos que darão lugar as canções? Que temática o inspira e motiva na hora de fazer canções?
Santiago: A ideia é recorrer uma ideia, tratar de nomeá-la, não deixar espaço para o literal, em algumas frases sim, mas não na ideia geral. Igualmente tratamos de que tudo seja fresco em seu surgimento, sem analisar muito essas estruturas pouco claras que um está gerando na hora de compor.
Outra marca em sua sonoridade são as grossas linhas de baixo e teclados. Tem noção que são elementos imprescindíveis em sua personalidade?
Santiago: No último disco pudemos aproveitar isso melhor. Nas gravações caseiras nunca pudemos chegar a essa profundidade nos baixos e teclados ou a claridade cortante do instrumento. Também a partir disso sentimos que muitas músicas podem apoiar-se melhor só nestas duas coisas.
De qualquer modo, acredito que "La Dinastía Escorpio" é um disco ardoroso e intenso, mas também acessível e cativante em alguns momentos... Está de acordo? É esta mistura de sensações, algumas contraditórias, o segredo da banda?
Santiago: Não sei...pode ser: nós gostamos desse tipo de mistura, de coisas que podem parecer antagônicas no princípio e logo notamos como tudo vai se complementando. As músicas saem assim. Repito que são coisas que aparecem e que tratamos de não analizá-las muito, para não entendê-las por completo e assim evitar corrermos o risco de voltar tudo mais estruturado.
Como surgiu a possibilidade de que o selo espanhol Limbo Starr lançasse este ano seu disco "La Dinastía Escorpio"?
Santiago: Conhecemos uns caras em Madri e nos apaixonamos imediatamente. Nos mostraram suas edições e sentimos famiiar esse espírito independente, parecido com o do nosso selo na Argentina, Laptra.
Porque na realidade faz tempo que esse disco foi composto e gravado... Como percebe o disco agora? Mudaria algo?
Santiago: A verdade é que em comparação com nossos outros discos ele é o que mais nos deixou satisfeitos. No momento não me arrependo de nada. Até o momento...
E olhando para o futuro... Quanto teremos um novo disco? Têm novas canções? Que direção o grupo seguirá em seus próximos passsos?
Santiago: temos muitas ideias e canções, queremos seguir gravando coisas, experimentando em novos lugares. Quem sabe a partir de premissas similares podemos chegar a lugares diferentes, mas ainda falta.
Uma das referências que se menciona com frequência ao falar de sua música são Los Planetas. É uma influência verdadeira? Tem escutado com frequência Los Planetas? Quais são as principais referências do El Mató A Un Policia Motorizado?
Santiago: Na verdade conhecemos quando já havíamos feito alguns discos. Os admiramos e são referência imediata. J escreve coisas incríveis, com uma simplicidade que te derruba. Quando formamos a banda tratamos de retomar uma certa linguagem alternativa, colocando o foco no selo Matador. Essa onda indie dos anos 90 nos Estados Unidos é algo que nos encanta desde jovens, não só sua música e sim a forma de fazer as coisas. A ideia era trazer isso para nossa realidade e misturá-la com nossa própria linguagem.
Cada vez mais bandas da América do Sul chegam a Espanha e vice-versa. Como vê este intercâmbio de músicas e por que acredita que nos últimos anos está tão ativo o movimento cultural entre os continentes?
Santiago: Isso está muito bom. A verdade é que grande parte disso é graças a internet. Está bom e nos diverte ver como muitos se surpreendem de que na Argentina exista uma cena de rock alternativo. Em toda a América do Sul estão ocorrendo feitos artísticos muito interessantes, com muita personalidade, a verdade é que isso está muito bom.
Como vê essa atual cena musical argentina? Tem alguma recomendação?
Santiago: O nível artístico é muito bom, e pessoalmente acredito que é o melhor momento. Ainda que faltem espaços, festivais e meios alternativos, mas lentamente vão aparecendo. Minhas bandas favoritas são 107 Faunos, Go-Neko! Las Ligas Menores, Reno, Antolín, Koyi, La Patrulla Espacial, Shaman e muito mais.
O que o público pode esperar quando decide vê-los ao vivo? Como são seus concertos?
Santiago: Tendem a ser noites festivas, de amigável celebração. Prometemos noites divertidas e românticas.
Na realidade vocês já tocaram várias vezes na Espanha. Quais as lembranças desses shows? O que foi melhor e pior dessas visitas?
Santiago Foi tudo muito bom: quando nós viajamos para lugares novos nunca esperamos nada, não nos carregamos de expectativas e deixamos que a situação nos surpreenda. E a verdade é que a resposta em todos os lugares sempre foi genial, em todas as cidades. Aproveitamos muito.
Entrevista original: Raúl Julián (Muzikalia)