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Há dez anos que Damon Gough - conhecido como Badly Drawn Boy - surgiu na cena musical pela porta principal para receber o Mercury Prize graças ao seu aclamado debut "The Hour of Bewilderbeast" (2000). Dois anos depois repetiu o acerto com a continuação de "Have You Fed the Fish" (2002) e a trilha sonora de "About a Boy" (2002).

Depois do sucesso imediato sua carreira enfrentou a recepção morna de "One Plus One Is One" (2004) e "Born In The UK" (2006). O dissimulado regresso aconteceu em 2009 com a autoria de uma nova trilha sonora, nesse caso para "The Fattest Man In Britain" (2009) de David Blair. Menos de um ano depois o músico ressuscita definitivamente com as composições de "Photographing Snowflakes" (2010), primeira parte da trilogia chamada "It's What I'm Thinking".
 
Badly Drawn Boy reaparece em plena forma, com novos pontos de vista sobre sua vida e música, além de uma motivadora ambição.
 
*De tudo isso falamos com Damon na seguinte entrevista:
 

 
Olá Damon, obrigado por nos conceder esta entrevista!
Badly Drawn Boy: Eu que agradeço.
 
"Photographing Snowflakes" é a primeira parte de uma trilogia denominada "It's What I'm Thinking". Como surgiu essa idéia e porque o título?
Badly Drawn Boy: Sempre estive muito vinculado a música que se faz em Manchester, mas sempre pensei que na realidade estou bem longe de ser como qualquer grupo ou artista da cidade. Fui um grande fã dos Smiths nos anos 80. Andy Rourke tocou comingo. Conheço Liam e Noel do Oasis e os membros dos Doves são meus amigos. Devem ser minha banda de apoio. Acredito que aí começa tudo.
 
Estamos diante do projeto mais ambicioso de Badly Drawn Boy até o momento?
Badly Drawn Boy: Minha carreira é um grande erro, assim é como penso. Me lembro quando escutei pela primeira vez "Nevermind" do Nirvana...de alguma forma relacionei que aquilo era uma espécie de plágio dos Pixies...Nada nunca é ambicioso demais.
 
E ao mesmo tempo... Este é um disco mais maduro do Badly Drawn Boy? Você é uma pessoa mais séria e reflexiva que antes?
Badly Drawn Boy: O disco é algo como um tributo para todas as coisas que ajudaram na minha formação. Em 1984 escutei Bruce Springsteen tocando "Thunder Road" enquanto estava vendo TV e a música era de um show gravado no Madison Square Garden em 1979. Gravei aquilo e ouvi um milhão de vezes. Minha reflexão imediata foi "Merda...Como um artista pode fazer algo assim?". E então me tornei engenheiro de som. Como te dizia, minha carreira é um grande erro...e até hoje, sigo pensando.
 

 
Como funciona "Photographing Snowflakes" como primeira parte da obra e no que consiste as outras duas partes?
Badly Drawn Boy: Fazer uma trilogia me dá a liberdade de poder decidir e expressar o que estou pensando em um dia específico e durante as três, quatro semanas seguintes. Abro minha própria criatividade de uma forma que não havia feito antes. Deveria ter descoberto isso antes, mas esse tempo tem me levado a dar conta do quão simples pode ser tudo.
 
Já se passaram quatro anos desde o lançamento de "Born in the UK" (2006), seu disco anterior de estúdio (sem contar a trilha sonora). Há algum motivo especial para que tenha se passado tanto tempo desde o último trabalho?
Badly Drawn Boy: Na realidade não houve uma razão em particular. Escrevi as músicas em casa, com minha guitarra e piano, e quando realmente pensei que devia fazê-lo fui até o estúdio. Ali terminei os arranjos e partes adicionais. Uma canção pode ir em muitas direções diferentes dependendo do modo que você acorda naquele dia. Sou muito indeciso para muitas coisas, por isso escuto muito as músicas até que realmente me convençam.
 
Fazendo uma referência ao título do disco, "Born in the UK". O que significa para um músico ser inglês?
Badly Drawn Boy: Queria usar um título que as pessoas comentassem. Acredito que para fazer esse disco seria um crescimento pessoal. Eu sou um cara de Manchester, quando o time joga futebol na cidade eu ainda posso ouvir as pessoas gritando de minha casa, então eu ainda não acho que isso está acontecendo. Eu sou apenas um fã de música, como qualquer outra pessoa. Sempre pensei que os ingleses valorizassem muito a música como parte intrínseca de sua cultura, algo que não acontecesse na Espanha e isso me dava muita inveja. Bom, não saberia te dizer quais são as diferenças com relação a Espanha.
 

 
Em 2009 você fez a trilha sonora do filme "Fattest Man In Britain", e em 2002 de "About a Boy". Como é a experiência de fazer música para filmes? Tem previsão de alguma outra trilha sonora em breve?
Badly Drawn Boy: Foi uma experiência agradável. Para voltar ou não a fazer uma trilha sonora, dependo do interesse novamente na minha música e que me chamem.
 
Como você vê a música britânica atual depois de uma década do seu debut? E sobre tudo... Que mudanças destacaria na indústria musical desde o início de sua carreira?
Badly Drawn Boy: A música sempre será importante enquanto existir a humanidade. Obviamente tudo mudou: as modas, tendências, tudo. Mas não se pode estar ciente do que os outros estão fazendo mais do que você mesmo. Obviamente a indústria da música está passando por tempos difíceis, mas também outros campos profissionais, com a diferença que a música sempre vai existir. Na forma e no modo como deve aparecer, não sei, mas que vai estar lá com certeza.
 
Se você pudesse escolher uma entre todas as músicas que você compôs. Qual a música de seu repertório que escolheria como mais representativa de Badly Drawn Boy?
Hummm. Você sabe? Essa pergunta é difícil de responder...
 
Em 2000 você ganhou o Mercury Prize com seu primeiro álbum "The Hour of Bewilderbeast" (2000). O que significa para um artista ganhar esse prêmio? Muitas vezes, argumenta-se que ajuda substancialmente na carreira do artista. Você achou que algum tipo de efeito positivo na sua carreira?
Badly Drawn Boy: O que me proporcionou foi a possibilidade de trabalhar com muita gente diferente. Eu gosto de estar com dois ou três artistas no estúdio e depois com outro e outro...pode parecer uma loucura, mas o que aprendi depois de obter este reconhecimento, é que a regra geral na hora de fazer música é que não há regra geral e muito menos nesta trilogia.
 
O que você acha sobre o álbum dos últimos ganhadores desse mesmo prêmio, o The xx?
Badly Drawn Boy: Para ser sincero, não conheço muito.
 

 
Para finalizar, tenho que perguntar... Porque sempre usa gorros de lã?
Badly Drawn Boy: Pergunta curiosa...Suponho que eu gosto de proteger minha cabeça do frio. (risos).
 
 
 
 
*Entrevista originalmente feita por Raúl Júlian e publicada em dezembro de 2010 no Muzikalia.
Tradução: Adriano Moralis