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Depois de quatro meses tentando conseguir esta entrevista, Cindy Wilson (uma das componentes do B-52's) aceitou responder parcialmente a entrevista que enviamos. A espera se compensa com "Funplex", seu aguardado álbum de retorno e com algumas declarações que nos aproximam de um novo universo - não muito diferente do que fizeram nos anos oitenta - de um dos grupos mais importante e influentes da história da música atual.



Seu último álbum data de 1992 e se chamava "Good Stuff". Foi um disco que sem pretensões se aventurava no futuro e fazia com que o trágico desaparecimento de Ricky Wilson em 1985 se somasse a baixa na banda de Cindy Wilson, por obrigações pessoais, ficando o B-52's reduzido a um trio formado por Fred Schneider, Kate Pierson e Keith Strickland. Depois desse disco o grupo entrou em uma fase de reflexão que deu como resultado final sua volta por cima com "Funplex", dezesseis anos depois.



A verdade é que voltaram em um momento oportuno, muito dos grupos os reivindicam (entre eles Art Brut, LCD Soundsystem e Chick On Speed), sua sonoridade dos anos 80 está na moda e depois de sua apresentação no FIB Heineken (Benicássim) fica claro que seus fãs continuam ativos. Assim estamos com sorte, se nos cabe revisar este novo trabalho, nele sem dúvida há magia. Músicas diretas, dançantes, divertidas, contagiosas e uma produção direcionada para as pistas, mas também há o habitual lado rock que ficou sob a produção de Steve Osbourne, ele já foi o encarregado de colocar em órbita contemporânea grupos mais clássicos, como havia feito com New Order.



Não soa como esses retornos com desculpas esfarrapadas (com discos medíocres), "Funplex" oferece o melhor de si mesmo, o mais pop (já tiveram seu momento para fazer do punk algo novo) e acertam no alvo. Confira:



Como surgiu a volta do B-52's, primeiro ao vivo e a necessidade de músicas novas e logo o álbum? Ou já tinha pensando em lançar o disco e por isso a volta aos palcos?



Cindy Wilson: Bem, na verdade o processo começou como imagina, há muito tempo, quando nós tínhamos claramente em nossas mentes que queríamos fazê-lo. A necessidade do novo material estava totalmente clara e estivemos falando sobre ele, a conclusão foi que sim, queríamos ir mais longe com essa idéia e continuar com o grupo, tínhamos que gravar novas músicas. Esse foi um dos catalisadores e nos pusemos a escrever, foi quando tínhamos que levá-lo a sério. Vimos que poderíamos começar a negociar e queríamos que todas as decisões sobre com quem gravaríamos e outras coisas deveriam ser bem estudadas. Tudo isso levou quatro anos, mas acredito que foi uma decisão correta. Keith Strickland veio com uma música brilhante e Fred, Kate e eu começamos a experimentar, incluir coisas em cima dela, as letras, as melodias e harmonias, montando tudo como se fosse um quebra-cabeça. Foi sinceramente um disco muito divertido de fazer, podemos dizer que passamos muito bem o fazendo.







Além disso, vocês voltaram com a formação original depois do seu retorno a banda após o último álbum "Good Stuff", no qual não participou. Como foi seu reencontro? O que significou para você o retorno ao B-52's?



Cindy Wilson: Bom, como verá eu retornei ao grupo provavelmente há onze anos. Estivemos trabalhando na revista "Under The Radar" que funciona na América e demos e fizemos algumas pequenas turnês de verão com The Go-Gos e The Pretenders, mas nós não tínhamos material à venda que nos colocasse em órbita de novo como notícia e interessasse para as revistas e tudo mais. Por isso começamos a sentir a necessidade de gravar novas músicas para voltarmos ao circuito e para que voltassem a falar de nós. Foi se gerando uma nova ilusão, por isso surgiu essa impressão que aparecemos de repente, mas estávamos por ai todo esse tempo e nos sentíamos vivos porque parecíamos a nós mesmos na forma de tocar, de cantar e de atuar, poderíamos fazer turnês juntos. Trabalhamos isso e fomos pouco a pouco criando a engrenagem e a nova banda. Nunca ficamos enferrujados e isso foi muito importante para nós. Não tínhamos a necessidade de voltar a ensaiar e esse tipo de coisa porque nunca deixamos de fazer isso. Estar junto todo esse tempo é o corpo de nosso novo álbum e estamos felizes com o resultado.





Vocês retornam em um momento em que muitos grupos reivindicavam sua sonoridade como uma das mais inspiradoras dos últimos anos. Você notou essa herança em algum grupo atual?



Cindy Wilson: Sim, mas esse é o curso natural dos acontecimentos. Seguramente nós fomos inspirados por influências diferentes, e essa é somente a maneira que são as coisas. Realmente eu tenho escutado um pouco da nova música que parece inspirada em nós e sua excitação.







Quais são essas bandas que tem escutado?



Cindy Wilson: Eu pessoalmente tenho ouvido Scissor Sisters e o que o resto da banda faz. Também tenho escutado algo mais, grupos como LCD Soundsystem e The Rapture.



Funplex me parece um disco distinto de todos os outros álbuns anteriores. Como você vê este disco a respeito dos álbuns anteriores?



Cindy Wilson: Eu gosto disso. Penso que é o meu favorito agora. É difícil, é como se os discos fossem como seus filhos, todas as canções são diferentes e tudo em cada disco é distinto, mas estou realmente orgulhosa do que significa para nós fazer isto e poder voltar com material potente. É um disco muito divertido de cantar e de tocar ao vivo, junto com todo o nosso repertório habitual, creio que faremos muitos shows bons.







B-52'sA produção é de Steve Osbourne que também produziu o disco de retorno "Get Ready" do New Order, acostumado a fazer produções dançantes. Por que contar com ele? O que ele acrescentou ao som do disco?



Cindy Wilson: Ele é fantástico. Aquele álbum foi uma das influências de Keith Strickland e quando nós falávamos de produtores, Steve estava em primeiro na lista de selecionados. Enviamos nossas músicas e ele realmente gostou. Disse que gostaria de fazê-lo, e ele estava trabalhando com KT Tunstall e tinha muito sucesso com ela, era uma verdadeira credencial para ele fazer nosso álbum. Nos tratou com cuidado, tanto de longe como quando entramos em estúdio. Foi firme, mas também nos deixou fazer nossas coisas. Conhecia o nosso espírito e para cada coisa que nós pensávamos ele tinha uma idéia realmente boa a respeito. Ele não nos pressionou ou nos sobrecarregou.



Que grupos ou sonoridades te parecem mais interessantes nos últimos cinco anos? Acredita que já não se faz música como se fazia nos anos 80?



Cindy Wilson: Sou realmente uma pessoa de rádio. Cada um consegue a música que escuta de modos diferentes. Bem, vejamos a última coisa que comprei, não tirei da rádio, foi Brian Ferry fazendo versões de Bob Dylan. Um álbum chamado "Dylanesque". Eu gostei muito. Escutei bastante. Foi o último que comprei, saiu no ano passado.







Quais coisas mudaram desde os anos 80 até 2008 em relação à música, os grupos, a indústria...?



Cindy Wilson: O negócio todo mudou, estamos em outro universo. Algumas pessoas nos disseram que estamos loucos por lançar um disco hoje em dia e na nossa idade. Eles perguntam "mas como vai ganhar dinheiro com isto?". É realmente um desafio, especialmente porque não nos consideramos uma banda jovem. Mas, como sabe, somos esse tipo de pessoas que não se preocupam com estas coisas. Nada disso importa no universo do B-52's, em nosso universo tudo é bom e vamos por ele.



Você fez um show muito bom em Benicàssim no ano passado. Me fale sobre essa experiência.



Cindy Wilson: Foi maravilhoso! Era a primeira vez que voltávamos a Europa depois de muito tempo, e ali havia uma grande energia e grandes vibrações. Era a primeira vez que conseguíamos tocar nossas novas músicas e fazendo diante de muita gente, muita gente mais jovem que nós, foi realmente maravilhoso e ficamos realmente eletrificados, foi uma experiência muito boa!



Por: Supernova Pop (www.supernovapop.com)

Tradução: Adriano Moralis