Pill #1 – O mês de janeiro, depressão e MC5
Janeiro é um mês simples assim, preguiçoso e saudosista. E como não consigo ficar uma só coluna sem cair na velharia – fazendo uso da frase que ouvi por aí a respeito dessas coisas que insisto em escrever por aqui – vou aproveitar a oportunidade para resgatar uma banda da mesma terrinha do moderninho White Stripes. O assunto agora é MC5.
Formado em 1965, Detroit (EUA), o Motor City 5 chegou e saiu causando polêmica. Encaixado no contexto proto-punk, revigorou a cena rock com músicas que instigavam, com uma pitada de acidez, a política norte-americana. A irreverência à beira da anarquia foi um fator decisivo para que a banda arranjasse constantes problemas com policiais e sofresse censuras. O MC5 se dissipou no início da década de 70, deixando três álbuns e pequenas lições de boa música elaborada a partir do talento dos guitarristas Wayne Kramer e Fred “Sonic” Smith, vocais inconfundíveis de Rob Tyner, contrabaixo certeiro de Michael Davis e o ritmo envolvente da bateria de Dennis Thompson.
E para catapultar qualquer depressão de início de ano, nada como escutar - sim! - algumas ‘velharias’ estilão MC5. Dançantes, animadas, ácidas (no sentido ilícito também) e de composições interessantes inspiradas em funk, soul e jazz, suas músicas estão aí para comprovar que nenhuma tristeza consegue resistir à criatividade despretensiosa desses caras. Um exemplo seria o magnífico álbum de estréia Kick Out The Jams (1969).
Extraído de um show realizado em Detroit no ano de 1968, Kick Out The Jams foi e continua sendo considerado um dos melhores álbuns ao vivo já gravados no mundo. Sem frescuras, foi capaz de captar o encontro mais puro entre música e público. Por essas e outras que essa banda deixou marcas na história, pois conseguiu unir espontaneidade à revolução. Audição imperdível, principalmente das ótimas “Kick Out The Jams” e “Motor City Is Burning”. A idéia principal é escutar o quê o MC5 quis mostrar ao mundo, se é que em meio a toda despretensão eles imaginaram que suas músicas influenciariam aqueles que em algum momento desejassem ‘chutar a geléia, mother****ers!’.
Pill #2 – Santa Polly J. Harvey
“I can't believe life's so complex
When I just wanna' sit here and watch you undress
This is love, this is love, that I'm feeling”*
*PJ Harvey em “This Is Love”
Sou devota dessa mulher. Polly Jean Harvey é uma das melhores artistas que o rock pôde parir, perdoem minha exaltação. Mas não dá para tirar o mérito de uma pessoa que compõe excelentes músicas, toca muito bem, tem um surpreendente jeito de cantar e já uniu seu talento a gente poderosa como, por exemplo, Thom Yorke (Radiohead), Nick Cave, Tricky, Björk, Josh Homme (Queens Of The Stone Age), Sparklehorse, e por aí vai...
Em 1991, a inglesa PJ começou a desenhar sua carreira ao montar um trio que levava seu próprio nome. Como vocalista e guitarrista, liderou a banda PJ Harvey e gravou o material demo decisivo para a reviravolta em seu mundinho musical. Com influência de blues e punk, o debut single “Dress” impressionou o selo Too Pure, que, sem demora, contratou o trio para a gravação do primeiro álbum, o vibrante Dry (1992). Logo mais veio o segundo álbum Rid Of Me (1993), que sobreviveu à crítica e consolidou sua carreira. Vale destacar que o bam-bam-bam Steve Albini (Sim, é aquele cara que meteu o dedo no In Utero do Nirvana, no Surfer Rosa do Pixies, etc) trouxe para esse álbum um pouco da ‘sujeira’ já conhecida e aclamada. Sobras de Rid Of Me e alguns lados-B foram reunidos e lançados com o nome de 4-Track Demos (1993).
Cada vez melhor, PJ lançou o eclético álbum To Bring You My Love (1995), que inaugurou sua carreira solo. Com a manutenção da competência que a tornou respeitada por crítica e público, a moça continuou a moldar seu sucesso ascendente. O quinto álbum Is This Desire? (1998) é um dos menos conhecidos, mas não perde em momento algum a qualidade conquistada. Músicas como “Angelene” e “A Perfect Day Elise” merecem audição.
Entretanto, foi com o sexto álbum que Harvey atingiu um ponto de maturidade musical sensacional e cada faixa de Stories From The City, Stories From The Sea (2000) merece audição compulsiva. As excelentes “Big Exit”, “A Place Called Home” e “This Is Love” não negam a qualidade. Há uma retomada da postura musical dos primeiros álbuns, atingindo-se o equilíbrio entre pegadas marcantes e suaves. Sem contar que Stories tem participação especialíssima de Thom Yorke na deliciosa música “This Mess We’re In”. Impossível não se apaixonar por esse trabalho e admirar ainda mais a grande artista que é PJ Harvey.
Impossível também é entender o que acontece (ou melhor, não acontece) com a PJ no Brasil. Mal dá para acreditar o quanto ela é desconhecida por aqui. Faça o teste, tente comprar algum álbum dela. Talvez em alguma grande loja seja possível encontrar, com muita sorte e fé, o sensacional “Stories...” a preços absurdos e só. O jeito é sair caçando por aí à moda virtual mesmo, infelizmente. Aliás, vale a pena visitar o site da cantora (www.pjharvey.net) e conferir o material disponível.
Pill #3 – Arrematando...
Rolou muito MC5 e PJ Harvey ao longo da confecção dessa coluna, óbvio. E, claaaaro, preparação para o Teenage Fanclub!
That´s all, folks! Continuem mandando e-mails e comentando!
Até loguinho...
Fui!