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Sarah Records

"a day for destroying things...
... because when you were nineteen
didn't YOU ever want to create something beautiful and pure
just so that one day you could set it on fire
and then watch the city light up as it burned?
Didn't you want to do that every day of your life?"

Já foi dito que escrever sobre indie pop sem citar a importância da gravadora Sarah Records é o mesmo que escrever sobre black music e não citar a Motown. Também já foi dito que a gravadora de Bristol, juntamente com o selo escocês Postcard Records (Orange Juice, Josef K, Go Betweens, Aztec Camera) e o lançamento da fita C-86 pelo semanário inglês New Musical Express, construiu a base do indie pop produzido na terra da rainha. Por aí já dá pra se ter uma idéia da importância/influência da gravadora no cenário pop inglês e mundial e a paixão que desperta nos seus fãs.

Acrescento mais uma afirmação, o Belle & Sebastian representa o indie pop no topo do iceberg, isso todo mundo já sabe? Uma outra então, talvez não houvesse Belle & Sebastian se não fosse o caminho aberto pela Sarah Records, entenda-se a afirmação em dois sentidos: influências musicais e no surgimento de pequenas gravadoras, nesse caso a Jeepster Records.

A gravadora surge em 1987, após Matt Haynes e a jovem Clare Wadd se conhecerem na faculdade e descobrirem que compartilham gostos musicais idênticos. Antes, Matt editava o fanzine "Are you scared to get happy?", onde criticava a política dos selos independentes da época, argumentando que pareciam estar mais interessados em crescer, usando políticas comerciais próprias das “majors”. Clare, por sua vez, também chegou a escrever para um fanzine, em Yorkshire.

Sediada num flat, em Bristol, cidade que com a qual a gravadora guardava íntima relação (Matt e Clare sempre disseram adorar Bristol), vide algumas capas de álbuns, onde aparecem prédios da cidade, ou nos números de catálogo das compilações, que são os mesmos das linhas de ônibus local, ficou estabelecida a meta de lançar 100 álbuns da melhor música pop do mundo. Entre novembro de 87, com o lançamento de “Pristine Christine”, do The Sea Urchins, e agosto de 95, com a coletânea "There And Back Again Lane", foram feitos 100 lançamentos entre 7”, 10”, compilações, álbuns e fanzines. Em geral, o formato era o vinil de 7", que, segundo Matt, era ideal não só devido ao estilo de música proposto, mas também por ser econômico, popular e acessível.

Em seu cast a Sarah abrigava nomes até hoje pouco conhecidos do público em geral, mas profundamente guardados na lembrança dos fãs inquietos de indie pop ou twee pop, como se convencionou chamar. Another Sunny Day, The Orchids, Blueboy, Esat River Pipe, Heavenly, The Hit Parade, Talulah Gosh, Field Mice, The Sea Urchins, Boyracer, Brighter, Aberdeen, foram algumas das trinta e quatro bandas/artistas que lançaram álbuns pela Sarah. Bandas que, de alguma forma, possuíam ligações umas com as outras: canções melodiosas (algumas singelas), simples e curtas, permeadas por guitarras limpas, acústicas, às vezes com leve queda para o folk e letras geralmente adocicadas ou melancolicas, embora houvesse o lado mais ruidoso, representado por bandas como Secret Shine, por exemplo.

Com o padrão de qualidade criado desde os primeiros lançamentos, a gravadora atraiu um grande número de fãs não só para as bandas, mas para a própria gravadora. Um detalhe que sempre fazia diferença nos seus lançamentos era a beleza das capas e os posters ou cartões postais em forma de quebra-cabeça que às vezes vinham incluídos, gerando uma fiel número de “sarahmaníacos” na Inglaterra e no resto do mundo.

Aqui no Brasil o pessoal da brasiliense Postal Blue cita bandas da Sarah como influências (inclusive fizeram cover da banda Blueboy) e a Pale Sunday, banda de Jardinópolis, que teve seu EP “A weekend with Jane” (2003) lançado pela gravadora americana Matinée Recordings, especializada em indie pop.

O trecho entre aspas lá acima é justamente o que anunciou o lançamento do último álbum lançado pela Sarah e também o fim das atividades da mesma. Juntamente com o fim do selo, a maioria das bandas também acabaram, sendo que três migraram para a Shinkansen Recordings (selo dos mesmos donos da Sarah), Trembling Blue Stars, Blueboy e East River Pipe, enquanto algumas deram origem a outras bandas.

Dois atos marcaram o encerramento das atividades: o lançamento da coletânea “There And Back Again Lane”, com vinte e uma canções de vinte e um artistas do selo e ainda contendo um livreto com inúmeras fotos e histórias do selo e das bandas; e uma festa, realizada no dia 28 de agosto de 1995, em Bristol, onde fãs de diversas parte do mundo puderam participar e assistir apresentações das bandas: Heavenly, Blueboy, Orchids, Harvey Williams, Boyracer, Brighter, Secret Shine.

Com o fim do selo, em 1995, ficaram órfãos também milhares de fãs acostumados a aguardar ansiosos por cada disquinho lançado pela gravadora, hoje peças de colecionador.

Atualmente, graças ao advento da MP3 tem sido possível encontrar na Internet tudo que foi lançado pela Sarah, resgatando e mantendo vivo o espírito daquelas bandas e do selo.

Curiosidade: só pra se ter uma idéia do quanto a gravadora até hoje é adorada, há algum tempo atrás a estação de rádio do colégio Harvard fez um longo programa especial de 16 horas, chamado Sarah Records Orgy, onde o repertório vocês podem imaginar qual foi.

Links:

Sarah Records 1 - http://www.shink.dircon.co.uk/sarahhome.htm

Sarah Records 2 - http://home.clara.net/koogy/sarah/

Shinkansen Recordings - http://www.shink.dircon.co.uk/

Matinée Recordings - http://www.indiepages.com/matinee/