Álbuns para gostos variados essa semana aqui na Music Non Stop. Do pop sofisticado do Hooverphonic às guitarras barulhentas, querendo derrubar as paredes com ondas de distorção poderosas, do Airiel, com direito a uma passagem pelo já cansado brit-pop com a “ressurreição” dos esquecidos Puressence.
Hooverphonic - The President of the LSD Golf Club
(Pias Recordings, 2007)
Há algum tempo atrás, resenhando o álbum do The Go Find, banda belga, cometi uma omissão indesculpável ao falar sobre a música belga e esquecer de citar o Hooverphonic, talvez a banda daquele país que conseguiu maior projeção no cenário mundial: músicas em trilhas de filmes, seriados, comerciais de automóveis e até para a copa da UEFA. A oportunidade para redimir a dita omissão é agora, comentando seu mais novo álbum, “The President of the LSD Golf Club”, traduzindo: O Presidente do Clube de Golfe LSD, sétimo álbum de sua carreira e o primeiro após o fim do contrato com a poderosa Sony, que recusou tal título para o álbum de 2000, nominado “The Magnificent Tree”. A psicodelia expressa no título se apresenta na música do grupo em pelo menos três faixas: “Expedition Impossible” (primeiro single do álbum), com teclados a la Ray Manzarek, em “The Eclipse Song” (os mesmos tecladinhos novamente e um cravo) e “Bohemian Laughter”, com discreta ambientação trip-hop e toques lisérgicos. Produzido pelo veterano Mike Butcher, e sai pelo selo da própria banda, apresenta as características conhecidas do Hooverphonic: canções repletas de charme, sofisticação e certo ar de sedução, que às vezes sugerem momentos tranquilos ao lado da pessoa amada, como na sensual “Billie” (que lembra o Violet Indiana) ou alguns drinks num pub esfumaçado, em “Strictly Out of Phase”. “The President of the LSD Golf Club” é pop sofisticado, culpa da loira Geike Arnaert e sua voz hipnótica e sensual, dos arranjos luxuosos de Alex Callier (teclados, baixo, programação) e Raymond Geerts (guitarras), que gostam de preencher as canções com camadas de teclados atmosféricos. Melhores momentos: “Expedition Impossible”, “Billie” e “Bohemian Laughter”. (NOTA: 7,5)
Puressence - Don't Forget To Remember
(Reaction Records, 2007)
Poucas bandas podem se dar o luxo de levar cinco anos para lançar um álbum, seja por causa de pressão da gravadora ou pela necessidade de se manter viva na lembrança do público. Nenhuma das situações se aplica ao Puressence. A ausência do quarteto de Manchester pode ser explicada pela turbulência que atravessou após o lançamento de seu terceiro álbum, “Planet Helpless” (2002), que não conseguiu grande repercussão e refletiu no rompimento com a gravadora Island Records, que queria que a banda fizesse algo próximo do Savage Garden. Complementando, em 2003 perderam o guitarrista e fundador Neil McDonald, substituído por Lowell Killen. Levou tempo até a poeira assentar e conseguirem botar a banda novamente em seu rumo, lançando esse “Don't Forget to Remember”, seu quarto álbum, agora pelo selo Reaction Records. A pretensão de grandiloqüência expostas em seu terceiro álbum estão definitivamente enterradas, afinal não só a pressão para “acontecerem” já não é uma sombra a pairar sobre eles, como também estão cientes do alcance de sua música. “Don't Forget to Remember” é um álbum bem na linha de “Only Forever” (sem a força criativa deste, é claro), e se encaixaria como sequência para este. Não há aquela urgência emanada pelos riffs distorcidos de McDonald, Killen, por sua vez, trabalha preferencialmente texturas na guitarra, enquanto James Mudriczki continua usando seus falsetes, marca registrada da banda, embora de forma mais moderada, é fato. É um álbum com os dois pés na década de 90, com canções que crescem no refrão e algumas baladas, tudo que caracterizou o britpop made in England na década passada, o que acaba fazendo com que soe mais do mesmo, e isso pode ser bom ou ruim, aqui o resultado é morno, até monótono, a banda parece se auto-repetir e não consegue emplacar uma canção, talvez “Don't Forget to Remember” seja a que mais se aproxima disso. Não é um álbum ruim, mas você se esquece dele tão logo a décima música acabe, ou até mesmo antes disso. Melhores momentos: “Don't Forget to Remember”. (NOTA: 5,0)
Airiel – The Battle of Sealand
(Highwheel Records, 2007)
Após uma sucessão de quatro ótimos Ep’s lançados entre 2003 e 2004 pela Clairecords, reunidos no box “Winks and Kisses” e mais um Ep lançado de forma independente em 2005, finalmente o Airiel chega ao seu primeiro álbum. A evolução da banda é facilmente perceptível entre o lançamento do seu primeiro Ep e este “ The Battle of Sealand”, pode ser sentida não só na qualidade da produção, mas nos vocais mais encorpados de Jeremy Wrenn, na potência devastadora que as guitarras adquiriram e na variedade de idéias que se espalham pelas onze canções elaboradas pela banda para seu debut. Tudo que se prenunciava de bom está então condensado aqui, com as devidas mudanças, sem dúvida. O dream-pop hipnótico e meio pálido de antes aparece menos melódico, menos dream e mais pesado, agressivo, quase brutal. As guitarras gritam, se contorcem, as batidas de John Rungger são aceleradas, poderosas, e Wrenn vai tentando abrir caminho entre a enorme massa sônica que insiste em esconder sua voz, que pode finalmente se libertar das comparações com a de Neil Tennant (Pet Shop Boys). Entre os petardos que põem as paredes abaixo encontramos os melhores momentos em “Thinktank”, “You Kids Should Know Better” (ao melhor estilo Loop), “Peoria” (cheia de dissonância) e “The Release” (ótima para um air-guitar), do lado das atmosferas eletrônicas viajantes: “Sugar Crystals” (com participação de Ulrich Schnauss) e ainda a balada romântica “Stay”. Com seu debut, a banda de Chicago dá um recado para as várias bandas que insistem em fazer dream-pop à sombra de ícones da cena shoegaze inglesa: é possível beber na fonte e fazer algo que, mesmo mantendo viva a influência, consiga descolar dos influenciadores e não soar mera imitação desprovida de inventividade, ou seja, dá pra sair do círculo vicioso.(NOTA: 8,4)