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Surpresa, curiosidade e decepção, poderia ser o subtítulo dessa resenha de "Go Away White", quinto álbum de inéditas do Bauhaus, caso ela tivesse um. De antemão o ouvinte deve ser advertido a esquecer a imagem do Bauhaus oitentista, "Go Away White" mais parece uma cruza do Love and Rockets com Peter Murphy solo.

A surpresa

Era sabido que a banda havia se reunido em 1998 para alguns shows e que em 2005 haviam voltado a tocar juntos, desconhecia a pretensão de lançarem um álbum de inéditas nesse ano. Então, abrir um blog à procura de lançamentos e encontrar o disco com link pra baixar foi algo realmente surpreendente, afinal quase vinte e cinco anos se passaram desde "Burning From the Inside", seu derradeiro disco de estúdio, em 1983.

A Curiosidade

Durante a sua curta existência (1978-1983), a banda lançou quatro álbuns de estúdio onde o que chamava a atenção era a tentativa de não soar convencional, ao contrário, pareciam dispostos a chocar, agredir, atingir o público de alguma forma. Abusando de dissonâncias e baterias tribais, as canções do Bauhaus tinham como principal suporte as linhas de baixo simples e inventivas de David J. Enquanto o público gótico se divertia com a banda, a crítica detonava, taxando-os de mera imitação de Bowie. É verdade, a influência de Bowie sempre foi marcante no Bauhaus, assim como glam-rock. É irônico também que a música mais famosa da banda seja justamente uma versão (e que versão!) para "Ziggy Stardust", de Bowie e a canção mais "pop" tocada por eles.

A Decepção

Passado esse quase quarto de século e tendo em mente clássicos produzidos pela banda em seu período áureo como: "Bela Lugosi is dead", "in the Flat Field", "All We Ever Wanted", "She’s in Parties", "Kick in the Eye", era de se esperar que o Bauhaus fizesse um álbum mais consistente que esse "Go Away White". Esperava-se arranjos mais "elaborados" e canções menos convencionais, tendo em vista o amadurecimento musical da banda como um todo devido aos anos tocando em projetos (Tones on Tail, Love and Rockets, Dali’s Car)  e carreira solo.

O que a primeira vista pode parecer preguiça, se explica pela maneira como a banda gestou o álbum, tocando juntos no estúdio, como se fosse ao vivo, e em poucos dias de gravação. Sabe-se também que aconteceram alguns incidentes (provavelmente depois das gravações), conforme declarou Kevin Haskins em entrevista, e a pretensão de uma tour para promoção do disco foi abortada, chegando ao fim pela segunda vez.

A inventividade dos arranjos de outrora dão lugar a canções previsíveis onde o que se destaca são os vocais de Peter Murphy, que se não são tão viscerais como antes, ganharam mais potência e técnica. No geral, temos canções desnecessariamente longas e repetitivas como "Adrenalin" (que pode fazer sucesso em festa góticas), "Undone" e "Mirror Remains" (a faixa mais interessante do álbum); referências mais que explícitas ao "papai" (Bowie) em "International Bullet" e "Too Much 21th Century" (atenção no baixo de Taxman, dos Beatles) com seus riffs glam; e algumas tentativas vãs de revisitação aos seus trabalhos anteriores nas soturnas "Saved" (que também sofre o mal de ser longa), que inicia a fase sombria do álbum, "Black Stone Heart" e "Dog’s a Vapour". "Zikir", faixa que fecha o álbum, acaba soando uma tentativa forçada de soar como outrora.

Em "Go Away White", excetuando a voz de Murphy, o Bauhaus soa menos Bauhaus que o She Wants Revenge (um dos seus influenciados), um rascunho mal traçado da banda que um dia foi, soa como uma banda iniciante qualquer com ecos de glam-rock, sombras góticas e pouca criatividade. Não estranhem se alguém fizer o trocadilho "Go Away Bauhaus". Dê cá meu "In The Flat Field".

Melhores momentos: "Saved" e "Mirror Remains"

[Cooking Vinyl, 2008]

NOTA: 5,0