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Torna-se prescindível agora falar da competência, importância e historicidade de uma banda como o Tindersticks. Igualmente seria absurdo negar que o grupo, na atualidade, é um dos herdeiros legítimos e maiores da escola Nick Drake-Scott Walker-Leonard Cohen-Ian Curtis (do Joy Division). Assim como seria infinita idiotice refutar em dizer a influência dos ingleses deixada para muitos grupos novos em ascensão nestes tempos – The National e iliketrains, por exemplo.



Tindersticks costuma ser taxado de música-para-depressivos, por causa das letras que tratam de amores mal resolvidos, dores, mortes, amarguras e pesares do cotidiano sobre instrumentais colossais atingindo performances de orquestra. Mesmo assim, Staples e companhia conseguem extrair alegria em nossos semblantes. A melancolia que acaba gerando a felicidade. Aqui, temos um Tinderstick apático, sem a identidade que o consolidou, sem o carisma auditivo de trabalhos anteriores. Tomando como gíria moderna, digamos que o álbum não ‘decola’. Não chega a atingir um ápice, um impacto e certamente, nem acontecerá o provável e tentador repeat por parte do ouvinte.



Mesmo sendo impossível ficar sem se emocionar aos ú-ú-ús acompanhando a sempre voz poderosa e amarga deTindersticks Stuart sobre um arranjo acústico impecável em ‘The Flicker Of A Little Girl’, confesso que este é um álbum aquém do que a banda já pôde – e ainda pode – realizar. A semi-silenciosa ‘Mother Dear’ peca em trazer um instrumental insosso e tentar dar destaque somente à voz de Stuart. Inaceitável. Cadê aquele jeito de narrar histórias trágicas com instrumental épico de 8 minutos como em ‘My Sister’ (do segundo disco da banda)?



Os violinos estão tímidos, apagados. O trabalho com cordas sofre de apatia e os sopros já tiveram um espaço maior outrora. Muito realce para a voz amarga de Staples, pouca assistência instrumental que era típico do grupo. ‘All The Love’ não empolga tanto levando em conta estes quesitos. ‘The Hungry Saw’ é um folk-rock urgente e nervoso, porém, nada do que outros expoentes do estilo não fariam com a mesma pegada. Até as pequenas peças somente instrumentais que costumam ser praxes nas produções anteriores do grupo, aqui perdem o fôlego, tiram a seqüência e ficaram parecendo sobras de estúdio, a respeito de ‘E-Type’ e ‘The Organist Entertains’.



Acontece que o Tindersticks ainda ensina ao mundo como fazer música. Ou mesmo, dá lições para as gerações vindouras de artistas. Mesmo numa produção abaixo das expectativas, ‘Feel The Sun’, ‘The Other Side Of The World’, ‘Boobar’ e ‘The Turns We Took’ resgatam o genótipo do que foi o Tindersticks de 15 anos de carreira. O álbum se segura praticamente em sua metade, muito pouco para quem fez até 16 músicas brilhantes em outros discos.



The Hungry Saw’ – infelizmente - mostra um momento regular/mediano da banda. Embora aqui ainda existam elementos que consagraram o grupo em proporções menores, tais como experiência, o comando seguro e maduro do crooner Staples, o nível de algumas composições, as letras, a (ainda) correta e eficaz agregação dos instrumentos. Tindersticks, facilmente, ainda supera muita gente na cena musical por aí. Em 2008, só não superaram a si mesmos. Inclusive, para falar a verdade, sinto como se meu coração tivesse levado um corte, ou melhor, tivesse sido atravessado por um serrote.



Nota: 6,2



Banda: Tindersticks

Disco: The Hungry Saw

Ano: 2008

Gravadora: Beggars Banquet