Está achando que 2008 já está repleto de tantas novidades musicais? E olha que os anos anteriores relacionados com a consolidação da internet em nossas vidas não foram diferentes. Do simples folk-rock até a mais badalada banda (um Arcade Fire ou um Radiohead, como rápidos exemplos citados aqui) foram de fácil obtenção para os internautas. Ou mesmo, como foi a jogada de Thom Yorke e companhia de fazer o ouvinte pagar o preço que julgava melhor para o disco, uma brusca mudança nos hábitos fonográficos que até então imperavam começou a aparecer e a mudar nossa rotina de conhecimento de bandas.
Os verbos do momento então passaram a ser dois: garimpar e downloadear (ok, não esquentem com a palavra inventada e que não existe nos ‘Aurélios’ da vida). Tais verbos foram responsáveis por: conseguir aqueles discos que faltavam à sua coleção (pense na infindável discografia do Durutti Column); obter aquela pérola que você via na seção Zona Franca da antiga revista Bizz (pelo menos um terço do que você desejava ali); e ficar mais por dentro do universo da banda e saber que ela já tinha muitos outros discos anteriores, praticamente um chamariz para você conhecer outros discos dela. Foi assim comigo a propósito de Midlake, Peter Bjorn And John, His Name Is Alive, The Sleepy Jackson, The Walkmen.
Hoje, ficou imprescindível não conhecer alguma coisa além-radiofônico/comercial. Nos anos 80, ser banda independente ou indie (alternativa) era um luxo até. Muitas queriam e pretendiam chegar ao topo das paradas. Sucesso nas rádios. Eu, particularmente, não ouço mais rádios. Com tanto disco de MP3, você passa a fazer sua própria seleção (ano, estilos, mais dançantes, antigos, novidades, etc). O lado negativo: sempre aviso e informo que há o risco de haver uma “overdose musical”, o que geralmente não é agradável. Você pode baixar algo, ouvir e posteriormente, deletar ou deixar de lado. Mas será que isso seria justo? Não seria melhor uma outra audição? Eu falo isso como experiência própria e por fazer resenhas, onde, freqüentemente, ouvimos o cd a torto e a direito. E há certos momentos em que descobrimos como aquele cd que tinha sido esquecido (me lembro do “Palo Santo” do Shearwater, entre muitos exemplos) é maravilhoso.
Mais uma coisa é inegável dentro desse emaranhado de opções da internet. Na época em que fui formando minha identidade musical, escolhendo aquilo que gostava/não gostava ou o que continuaria comprando (me lembro daquele vinil que comprava e não me sentia bem, acabava vendendo pela metade do preço a um sebo de vinis); era difícil ter acesso a tudo. Missão quase impossível. Com o pouco que ganhava ajudando minha mãe, algum troco era reservado para as lojas. Era esperar algum lançamento e correr atrás. Quando não tínhamos o poder aquisitivo? Era esperar pela boa vontade de um colega ou por um som com pouco ruído de gravação, e fazer nossos K-7’s salvadores. O aparelho walkman dos 80 era como fosse o aclamado I-pod hoje (sério!). E as fitinhas (Basf, TDK, e aquelas pesadas de 90 minutos?) eram o nosso MP3, ou seja, nosso direito de ouvir música, de ter um pouco mais de paixão pela arte além do que nossos pobres bolsos suportavam. Tinha um colega meu que chegava a gravar o programa ‘Novas Tendências’ toda vez, para, pelo menos, não sofrer tanto.
Aonde eu quero chegar é exatamente aí, embora textos assim nos levam para mais divagações. Naquela época eu via nomes como Gang Of Four (foto), Neu!, The Sound, The Comsat Angels, Sparks, The Pretenders, Close Lobsters (acreditem!), Ocean Blue, The Chameleons UK (foto), ou até mesmo alguns discos do Durutti e tinha que apelar pela condição de importado. Dávamos alguma sorte de achar em sebo, baratinho (uma chance em um milhão)! Atualmente, me deparo com essas bandas e vejo a facilidade e a chance que tenho para conhecê-las (parece ironia). Foi até engraçado ouvir alguns desses álbuns e pegar alguma crítica (ainda tenho alguma Bizz antiga, acreditem!) e analisar, ver se tudo batia conforme estava exposto no texto; ainda há aquela coisa de que você perdia uma espécie de competição com o seu melhor amigo por ele ter conhecido antes e agora acho que ele sequer lembra; e, tem aqueles que falam tanto das similaridades e comparações de uma banda atual em relação a uma de 10,20 e 30 anos atrás (e você escuta e vê que parece mesmo). O MP3 nos deu esse prazer de viajar no tempo e conhecer coisas até do século que passou, aquelas músicas que tanto corremos atrás e que certamente se apagaram naquela velha “fitinha” que tínhamos.
Vocês podem me acusar de voltar ao tempo. Que seja. Adoro isso. Não vou perder essa oportunidade (se eu tenho como ter acesso a isso, por quê não aceitar?). Cada época tem seus “discos do ano”, como também as “marmeladas do ano”. Tem o super grupo (aquele que cria uma nova perspectiva, uma nova mudança, uma vanguarda). Tem a banda que faz música por entretenimento. Tem aqueles que fazem por paixão. Tem os queridinhos do momento como também tem os que nos são empurrados goela abaixo por algum manipulador da mídia de massa. Cabe a nós decifrar o de cada tempo em que vivemos (e do que ainda viveremos).