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Tudo começou com demos lançadas na internet. Através de sites que atiçam os ouvintes como o Myspace. Sites de música louvando o grupo. Estampado em vários lugares: ‘próxima sensação’. De meros anônimos, o hype foi só aumentando, sobretudo com o lançamento do EP ‘Wizard Of Ahhhs’ (agosto de 2007). Aparecimento em blogs, fotologs, comunidades do Orkut, e quase todo internauta exigindo o tão prometido surgimento do disco, o ‘Partie Traumatic’. Engraçado que eu estava alheio a todo esse burburinho e tinha a banda como uma incógnita para mim.

Eis que o rebento aparece. E se você, leitor, pudesse ver meu semblante retorcido agora, com certeza o próprio autor dessa resenha – eu mesmo - não precisaria de palavras para exprimir o que achou da produção. Por quê tanto escarcéu por algo mais do mesmo? Que não vem com idéia original e é um agregado de tudo que a música suportou até hoje? Não sei se o EP foi o que está resumido no álbum. Não ouvi. Muito menos posso dizer. Fui conhecer por curiosidade extrema causada pelo frisson geral. Sendo que eu, na maioria das vezes, gosto de conhecer a banda que está na surdina, desatenta, oculta da falação. Porém, uma voz interna me dizia lá dentro: ‘Ahh, em tempos de internet, o quê custa ouvir o Black Kids? Vai lá! Faça isso! Se arrisque!’.

E fiz. Mea culpa. Pela capa e por títulos como ‘I’m Not Going To Teach Your Boyfriend How To Dance’ (ufa!) e ‘I Wanna Be Your Limousine’, a primeira idéia que nos chega à cabeça é a de diversão. Despretensão. Nonsense. A música para entretenimento. Para chamar os amigos, sair, beber, curtir uma noitada. Esqueça letras, não espere melancolia, não aguarde arranjos elaborados ou músicas memoráveis/épicas. O tipo de música que alguém deixa no som do carro a todo volume para tentar surpreender pedestres incautos – mas a mim isso não causa mais impacto. Já tinha ouvido algo do Black Kids há dezenas de anos. Como? Algo alegre, esbanjando ‘lá-lá-lá’s’, refrões grudentos, guitarras e sintetizadores a mil por hora, um clima infantil. Fui vacinado quanto a isso desde minha adolescência ouvindo Bis, Supergrass, Shampoo, Shonen Knife, Ash, etc.

Partie Traumatic’ me deixou angustiado, nervoso, traumatizado, desestimulado. Um disco pequeno (38 minutos), contudo, que me pareceu uma eternidade. Em meio a dificuldades de coordenações lógicas de meu cérebro, consigo destacar umas 3 músicas – no máximo. Em que o recurso da alternância entre a voz feminina e a masculina parece funcionar. Aonde os ‘garotos negros’ diminuem o volume de seus instrumentos, desaceleram, berram menos, ‘engravatam’ a canção e tentam buscar uma identidade melhor dentro da produção. Uma roupagem mais rebuscada. ‘Hurricane Jane’ e ‘I’m Making Eyes At You’ são bons exemplos. Faltou mais uma, não é? Humm, deixa pra lá!

‘Hit The Heartbreakers’ e ‘Listen To Your Body Tonight’ são meras releituras de tudo que você já ouviu até hoje. Sobretudo nessa década. Um pouco de We Say Party! We Say Die!, Be Your Own Pet, Yeah Yeah Yeahs e ainda rápidos traços da música sessentista (especificamente as girl-groups) que faz o ouvinte rodar as mãozinhas ou bater palmas. Além daquilo que eu ouvia com 18 anos e que já foi citado no final do terceiro bloco. E não poderia deixar de mencionar que o disco foi produzido pelo ex-Suede, o guitarrista Bernard Butler. Pois é!

No final, ainda me indago do porquê do hype. Claro que a mídia precisava de um bode expiatório da vez, e essa escolha recaiu sobre esse quinteto da Flórida. Fico triste pelo fato de que outros grupos que merecem o mesmo destaque continuam obscuros. O mundo sempre foi assim. Descubra por si mesmo. Eu, deixo o disco engavetado, espero pelo que reserva o futuro ao Black Kids e vou ouvir outras bandas divertidas, porém com mais trunfos para me conquistar, a respeito de These New Puritans e The Teenagers.

Artista: Black Kids
Disco: Partie Traumatic
Ano: 2008
Gravadora: Columbia

Nota: 4,8