O Sisters Of Mercy, que veio ao país divulgar sua turnê comemorativa de 25 anos, encontrou o Via Funchal quase lotado, com pelo menos 4500 ingressos vendidos até o início da noite, o que causou surpresa, afinal, há quase quinze anos que a banda não lança nada de novo, não toca em rádios e nem aparece na MTV, mostrando que a fidelidade dos fãs é maior do que qualquer modismo de última hora.
Aliás, a grande maioria do público apareceu vestido de preto, e ressuscitando o velho espírito do Madame Satã e Front 575, desfilaram com camisetas de diversas bandas como The Cure, Joy Division, Fields Of Nephilim, e até de bandas mais "novas", como o Placebo, que se misturavam com a grande massa que trazia apenas um símbolo estampado no peito, a estrela do Sisters Of Mercy. E foi ainda no espírito saudosista iniciado pela recente turnê do Echo & The Bunnymen, que a década de 80 mais uma vez marcou o calendário internacional de shows, e que ainda pode ganhar reforço com apresentações de Bauhaus e New Order por aqui.
E foi essa mesma legião de fãs que se dividiu em opiniões sobre a apresentação do Sisters Of Mercy, a primeira polêmica foi em relação ao excesso de gelo seco e o não funcionamento dos telões, tudo isso por decisão da banda, o que praticamente deixou a visibilidade zero, mesmo os fotógrafos em frente ao palco tiveram dificuldade em retratar a apresentação; a segunda foi a falta de algumas músicas como "More" e "Walk Away", já que se tratando de uma turnê comemorativa, alguns tinham como certo todos os "hits" da banda.
Porém, a grande maioria do público não teve do que reclamar, mesmo sem ver Andrew Eldritch em meio a fumaça, ele conduziu por quase duas horas uma banda bem mais pesada, e brindou o público com várias novidades, incluindo a potente faixa que abriu a apresentação, chamada "Crash & Burn". E em alguns momentos, era possível ouvir o público cantando e vibrando muito a cada música, principalmente nos clássicos da banda, que não foram poucos, talvez se ele tivesse tirado duas ou três músicas novas, o show teria sido mais dinâmico, quase perfeito.
Esta turnê que os brasileiros assistiram teve início em fevereiro, mais precisamente em Las Vegas, de lá pra cá, rodaram diversas cidades americanas, canadenses e mexicanas, até embarcar para a Europa e finalmente chegar na América do Sul.
Em entrevista coletiva, Andrew Eldritch (vocalista e único membro original) já havia afirmado que a nova banda que o acompanha era bem mais vigorosa do que a outra, e isso foi perceptível no peso das músicas, muitas vezes sobrepondo a voz de Eldritch, chegando quase ao "heavy metal". E foi misturando novas composições com clássicos que o Sisters Of Mercy obteve uma boa recepção do público, surtindo efeito até no próprio Eldritch, que no bis soltou a frase "Meu lugar favorito é aqui", deixando o público eufórico, já que a fama de mal humorado do vocalista é reconhecida até mesmo pelo seu público.
No set list a banda tocou novidades como a já citada "Crash & Burn", além de "Romeo Down", "Slept", "Summer", entre outras. Mas foram as músicas de "Floodland" (87), um dos álbuns clássicos da banda, que literalmente levantaram o público, entre elas "Dominion/Mother Russia", "This Corrosion", "Flood I" e "Lucretia My Reflection", porém, outros clássicos como "Anaconda", "Doctor Jeep/Detonation Boulevard", "Alice" e a destruidora "Temple Of Love" também marcaram a apresentação dos ingleses, que liderados por Andrew Eldritch nos vocais e a poderosa bateria eletrônica Docktor Avalanche, tinham como suporte as guitarras de Chris May e Ben Christo, além dos teclados de Simon Denbigh.
Com certeza mais um show polêmico para os fãs, e mais uma boa lembrança para o Sisters Of Mercy, afinal, mesmo diante de algumas adversidades, banda e público voltaram a se encontrar mais de uma década depois, não restando dúvida para nem um e nem outro, que a banda é um dos grandes expoentes do rock gótico, e ainda tem gás suficiente para mais alguns anos, mesmo que permaneça nas sombras também fora dos palcos.