(O Senhor Mark E. Smith continua aprontando das suas. Agora com o Von Südenfed).
Dando continuidade com minhas indicações, apresento (da mesma forma que a parte anterior) mais 8 discos bacanas para resumir o que foi 2007 na arte musical.
8 – The Tough Alliance (‘A New Chance’) – Vi em algum site (não me lembro das referências completas neste exato momento): ‘bandinha de indie-pop hypada pela Pitchfork’. Ora, ultimamente, muita coisa tem sido xodó do Pitchfork causando até estranhamento de minha parte. Achei o site até mais condolente neste ano de 2007. Mas, qual o disco, na atualidade, que você deixa no repeat, pelo menos, por sete vezes? Com certeza, o The Tough Alliance. Um dos méritos eu já disse. Os outros vêm sobre forma de várias abordagens: te transportar genialmente para os anos 1990-91 (a excelente safra eletrônica dessa época); disco curto e tudo bem dançante sem soar descerebrado. Pode ser coisa de momento? Pode ser esquecido? O que vale é que esse álbum me prendeu agora no final de 2007 e também não sai de meu aparelho de som. E são suecos também.
9 – Ola Podrida (‘Ola Podrida’) – Parece que o excelente disco de Jenny Lewis and The Watson Twins lançado no ano passado tirou da sombra o rótulo do folk. Neste ano, por exemplo, muita banda apareceu ou se consolidou fazendo o estilo (surgem então as ramificações praticamente inexplicáveis como psycho-folk e art-folk). Papercut, Okkervil River, Iron & Wine, Peter And The Wolf e Great Lake Swimmers são algumas. Coloque neste rol o Ola Podrida. Deixando afastada a semelhança da capa com o disco do Interpol, o Ola Podrida mostra que o bolo (o conteúdo do disco) tem o recheio necessário que a música atual precisa: dedilhados de guitarras/violões, belos acordes, riffs grudentos, melodias marcantes, músicos com sensiblidade para compor. Também pudera, o líder, David Wingo, já trabalhava com trilhas sonoras para cinema. A música do Ola Podrida remete à paisagens cinemáticas, tudo guiado por um belo instrumento e que faz bem para seu cérebro e ao seu corpo. Eu, que não me simpatizava muito com o folk, passei a ver tudo com outros olhos.
10 – The National (‘Boxer’) - Ouvi muita coisa neste ano. Porém, fiquei surpreendido até agora: não existe bateria tão bem tocada como a do The National. Depois de um primoroso disco como ‘Alligator’ (2005), ‘Boxer’ – se não chega no mesmo nível – mostra uma banda consistente, madura e totalmente segura. Não precisando provar mais nada, não precisando de firulas e de muitas propagandas para ganhar mais fãs, Matt Berninger no melhor estilo Nick Drake/Leonard Cohen derrama letras que retratam angústias, relacionamentos interrompidos e vicissitudes do cotidiano. Coisas de nossas vidas. Coloquem ainda a percussão cavalar (volto a frisar essa particularidade), sopros, violinos e cordas. Depois disso, posso falar com convicção: nesta década, umas das 10 melhores bandas em atividade.
11 – Von Südenfed ("Tromatic Reflexxions") – Eu sei. O nome do projeto musical é estranho. Nome do disco, idem. E quem está por trás é uma figura estranha que vem desde os finais dos anos 70, líder de um grupo com idéias inusitadas e que fugiam do lugar-comum que assolavam o cenário musical desde então. O nome dele, o quarentão Mark E. Smith do grupo inglês The Fall. Agregado com dois componentes da banda Mouse On mars, Von Südenfed mostra gamas de possibilidades para unir rock com eletrônica num jeito descontraído, nonsense e desencanado. E não são muitos que conseguem tal façanha. Bom para a pista de dança como para se ouvir em casa mesmo. Coisas de uma cabeça que vive e respira música, coisas do ousado senhor Mark.
12 – Idlewild (‘Make Another World’) – Com uma certa experiência no mercado musical (que vem desde 1995), os escoceses do Idlewild fizeram um disco vigoroso, com o melhor da escola punk/pós-punk, sem perder o charme de belas melodias pegajosas para tocar até em rádio. Roddy Woomble firma-se como um bom vocalista e os instrumentistas acompanham com a devida maestria. A velha magia/herança dos três acordes ainda é fantástica. Você pode sentir a virulência da banda em ‘Everything (As It Moves)’ ou mesmo sua faceta calma em ‘Future Works’.
13 – Gravenhurst (‘The Western Lands’) – Outra banda com uma certa experiência no cenário, porém, com um certo anonimato. E quem correr atrás, vai descobrir um som harmonioso para ouvidos aflitos por belas canções. Nick Talbot é o cara com voz adocicada, que ao embalo de um violão ou de uma guitarra, junto com seus outros dois fiéis escudeiros vai tecendo composições dignas de quem julga fazer boa música. Nada exorbitante, o velho segredo da guitarra-baixo-bateria que arrasta o ouvinte para dimensões incomensuráveis de puro deleite. Ocasionais teclados; ora silêncio, ora explosões de guitarras para tudo voltar à passividade. Uma banda para descobrir e escutar, e não para descrever. Faça isso logo.
14 – Rosebuds (‘Night Of The Furies’) – Desde o lançamento de ‘Birds Make Good Neighbors’ em 2005, eu, no fundo de meu âmago, acreditava no trio Rosebuds. O disco ficou tanto na minha cabeça, que tinha esperanças com um próximo trabalho. A produção de 2007 veio numa velocidade inesperada, enganando minha própria consciência. Transformados num duo (Ian Howard, vocal e guitarra; Kelly Crisp nos teclados), continuam usando a mesma fórmula do anterior: sonoridade oitentista; músicas preenchidas com vocais masculinos e femininos repletas de efeitos, batidas que te fazem deixando batendo palmas. Embora não apresentem originalidade e nem novidades, o trabalho da dupla apaixona. E se você sair na rua contente cantando ‘Cemetery Lawn’, não se acanhe. O universo pop e encantador do Rosebuds te conquistou.
15 – The Twilight Sad (‘Fourteen Autumns & Fifteen Winters’) – Assim como o Idlewild, a banda também é escocesa (o sotaque do vocalista James Graham não nos deixa enganar), mas aqui, letra e melodia se unem para formar uma massa única, compacta, feroz e impactante. Coloque as paredes de guitarras dilacerantes à la iliketrains (ou reminiscências do shoegazer); adicione letras azedas que geralmente retratam traumas de infância (nada de tempos felizes, nem céus ensolarados); a voz de Graham entre a loucura e a serenidade; e ainda se surpreenda com a participação de um instrumento nada formal no mundo do pop-rock, um acordeão (mas como ele casou tão bem com a sonoridade). ‘That Summer, At Home I Had Become The Invisible Boy’ é uma das músicas do ano, e se não for dessa década, sem dúvidas.
Fecho aqui minhas indicações. Poderia colocar o dobro ou o triplo de bandas, mas, as referências que aqui estão, foram aquelas que mais me intrigaram neste ano. Sem hipocrisia e nem falsos testemunhos. Assim, espero que possa ter contribuído com a dúvida de alguns em procurar por mais coisas. Também, por pura obviedade, omiti algumas produções como ‘In Rainbows’ do Radiohead e o ‘The Flying Club Cup’ do Beirut. Discos que foram muito comentados em vários sites, me senti no dever de não comentar. Em contrapartida, também são geniais.